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Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

domingo, 22 de junho de 2008

Conselhos

Sempre tive amigos de todos os tipos e dentre eles, sempre gostei dos mais velhos. Podiam ser, em alguns momentos, monótonos. Mas tinham sempre algo a dizer; tinham vivido e podiam falar com a certeza que só possuem os que já testaram uma invenção.

Um desses amigos gostava de escrever e foi ele quem me apresentou música brasileira de boa qualidade, filmes cults que antes eu considerava chatos, e Márquez, pela insistência em que eu pelo menos corresse os olhos por uma de suas obras.

Em uma de suas crônicas, esse amigo divagou sobre nossa breve existência, consolidando-a na constatação de que nossas orelhas ficam maiores quando ficavamos velhos, e em uma conclusão muito sábia: quando nascemos, começamos a morrer.

É isso. Portanto, meus queridos, carpe diem.

Finalidades

A quem possa interessar. Se é que interessa a alguém. Mas é que a escrita sempre foi para mim a melhor forma de me expressar.

Lugares

Talvez por isso esse desassossego, essa busca incessante por algum lugar em que minha alma encontre paz. Como se, mudando os móveis, as roupas, os amigos e o horizonte, eu pudesse escapar desse momento do dia que, na verdade, existe em qualquer lugar do globo.

Achei que em Brasília escaparia e quase foi verdade. Em quase dois anos, creio que hoje foi a primeira vez em que ele me alcançou. Como se nos conhecêssemos, mas eu houvesse fugido enquanto ele estivesse preso em algum tipo de manicômio. Em liberdade, porém, a primeira coisa que fez foi sair no meu encalço, até me encontrar.

E alcançou-me exatamente enquanto dirigia pelo parque. Tão real e palpável, que pude sentir sua aproximação. Mas não fugi, nem senti vontade; ao contrário, fiquei feliz como alguém que reencontra um velho amigo. E deixei-me envolver por ele. Pude até sentir o cheiro da dama-da-noite.

Ter uma alma velha

Tudo isso porque hoje me perdi nas páginas de "Memórias de minhas putas tristes", de Gabriel García Márquez. Adoro os livros de Márquez e de Llosa, mas, e talvez justamente por isso, têm sempre um efeito devastador sobre mim.

O tom de nostalgia, acrescido de descrições brilhantes, é para mim como uma lembrança. Como se eu tivesse passado por tudo que eles viveram. Na verdade, o que há em comum entre nós é o modo de se referir ao passado; é a saudade latente que salta das linhas impressas nas folhas frias para tomar vida dentro de mim.

Apenas em duas épocas do ano sinto isso tão profundamente: na última semana do ano, em meio às festas do Natal e do Ano Novo, e no inverno. E sempre no final da tarde. Àquela hora em que o dia ainda não acabou, mas tampouco é noite. O céu ainda tem mais de uma cor que o azul, o sol é apenas um fantasma que teima em não encontrar seu fim, e as primeiras estrelas são apenas perceptíveis.

Ainda criança, costumava subir no ponto mais alto do muro da casa de minha avó para ver o pôr-do-sol e sentir a noite me envolver. Não tinha ainda 15 anos, mas já sentia tudo isso. Não sabia que era nostalgia e fico a imaginar como pode uma criança sentir algo parecido. Talvez fosse a nostalgia de minha alma velha pelas minhas vidas passadas...

A Nostalgia

Na efervescência e efemeridade dos meus 20 e poucos anos, visitei uma mulher que se dizia vidente. Disse-me ela, naquela ocasião, muitas coisas que acabaram se confirmando. De tudo que foi dito naquele quarto simples e cheio de penduricalhos religiosos, o que ficou gravado em minha alma foi apenas isso: "Você tem uma alma muito velha". Explicou-me ela que minha alma já havia estado na Terra muitas, muitas vezes, e vivido demais.

Mesmo naquela época já tinha essa impressão. Eu sentia, sim, como todas as pessoas da minha idade, a urgência de viver, mas não como se fosse viver as coisas pela primeira vez. Era como se as quisesse viver por sabê-las boas. Não era mais sábia que os outros; também dei muitas cabeçadas e aprendi pelos piores caminhos. Porém, ao fim de tudo, as conclusões nunca me impressionaram: já as tinha eu vivido anteriormente.