Quem sou eu

Minha foto
Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Os anúncios, os anúncios...

Esse negócio dos anúncios do blog é divertido... agora tem um monte de propaganda de produtos para bebê. E o pior, tem uma daquele produto da Knorr que você coloca no arroz para ele ficar soltinho...

Ou seja, juntando tudo, é o pesadelo da mulher na Terra.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Novas habilidades

Embora eu seja uma seguidora de algumas teorias da conspiração, como a de que estamos caminhando para um terrível Admirável Mundo Novo sem perceber, enxergo algumas vantagens.

Uma delas é a concepção em úteros fora do corpo humano. Ninguém merece parir.

Por outro lado, se os homens tivessem essa oportunidade, seriam mais espertos. A concepção desencadeia novas habilidades. Algumas úteis, outras nem tanto.

1º) Depois de parir, você aprende a suportar outras dores com facilidade.
2º) Depois que o bebê nasce, você desenvolve extremamente sua coordenação motora.

Por absoluta necessidade, aliás. Você aprende a fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, com extrema facilidade! E é capaz de:

- digitar enquanto empurra o carrinho com o pé;
- passar roupa, lavar louça e cozinhar enquanto empurra o carrinho com o pé;
- dar banho, vestir, amamentar a criança enquanto conversa ao telefone.

E sempre falando também com a criança, fazendo beicinhos e tals, para ela não chorar.

Na verdade, já estou mais evoluída. Outro dia minha mãe telefonou enquanto eu fazia o jantar. Cozinhar e falar ao telefone é mole. Mas aí o bebê acordou. Então eu cozinhei, falando ao telefone e com o bebê no colo.

E os New Kids on the Block não conseguiam dançar e tocar um instrumento ao mesmo tempo...

Lenina

Aí eu tenho momentos Lenina e momentos Linda.

São as duas personagens de Admirável Mundo Novo que, para mim, é como um I Ching da vida moderna. Há 70 anos Huxley conseguiu descrever a clonagem. O próximo passo é a concepção em úteros fora do corpo humano e a hipnopedia. Acho sempre que tudo isso está muito perto...

Lenina é a típica representante da sociedade do Mundo Novo. Encaixada na sua posição, horrorizada com tudo o que represente falta de "civilidade", não consegue compreender o amor ou outros conceitos "antigos", já que tudo é tão melhor para todos na civilização.

Linda também era assim, antes de ser abandonada na reserva dos selvagens e parir um filho. Em um trecho do livro, ela se zanga por estar naquele lugar e culpa a criança. Porque se ele não tivesse nascido, ela poderia voltar para a civilização. Mas como voltaria com um filho? E ela começa a bater na criança. De repente para e começa a cobri-lo de beijos. Ou seja, a maternidade, no sentido do conceito amor mãe-filho, fala mais alto, apesar de todo o treinamento hipnopédico.

Lenina ou Linda?

Mothern 2

Quando tive meu primeiro filho, tudo foi estranho. Eu era muito nova, com uma gravidez não planejada... claro que fiquei feliz porque ia ter um bebê. Mas na verdade, não sabia o que isso significava. Enquanto uma parte de mim estava radiante com o bebê no colo, outra ficava gritando tudo que eu estaria perdendo a partir daquele momento.

Agora sei o que significa ter um bebê. Então é diferente.

Com a pequena nos braços, observando seu sono, sinto uma coisa difícil de descrever. Pensei, pensei, e acho que, mais que amor, mais de ternura, é uma sensação de dever cumprido. Como se a minha existência só se justificasse por isso, pela minha reprodução. É gozado, eu não chego a pensar isso, mas eu sinto.

E quanto tive um menino, foi diferente também. Sentia isso, acho que só. Agora, olhando a menina que é a minha cara e que com certeza será uma cópia muito fiel de mim, pensei outra coisa: é como se, depois que eu morrer, eu continuasse na Terra. Claro que não terá a menor importância, porque eu estarei morta. Mas é engraçado como isso é confortante... é a certeza de que, mesmo após eu partir, estarei aqui para ser lembrada, algo assim.

Acho que a felicidade da maternidade é a certeza de um sopro de vida pós-morte. Ter filhos é uma maneira de continuar viva, mesmo que apenas em suas memórias, fotos e vídeos, por pelo menos mais meio século. Simples assim.

Os caçulas

De todas as ansiedades dessa gravidez, a maior era finalmente poder descobrir se as mães gostam mesmo mais dos caçulas. Dúvida eterna, essa. As mães dizem que não, contam a história dos cinco dedos da mão... os filhos têm certeza de que o caçula é o preferido.

E eu teria agora a chance de descobrir.

Meu marido, há séculos, tentou explicar: não é que as mães gostem mais dos caçulas. É que, por serem menores, estão sempre precisando de mais cuidados. E quando crescem, as mães já se habituaram a estar mais preocupadas com eles do que com os outros.

Ainda é cedo, mas acho que já posso opinar. Meu marido estava certo. É tão claro para mim que meu filho de 11 anos pode se virar sozinho enquanto a pequena precisa de tudo... Mas com certeza, meu filho não vê assim. Acho que ele imagina realmente que eu goste mais da pequena. Porque atos sempre falam mais do que palavras...

Mothern

Se você encontrasse uma máquina do tempo, para onde viajaria?

Hoje, gostaria de observar a pré-história. Os homens da caverna. Vi a foto de um bebê recém-nascido com aquele cordão umbilical horrível pendurado e pensei: como as mulheres da pré-história faziam?

Sim, porque bebê é tão delicado... tem que usar água fervida, tem que fazer curativo no umbigo com álcool sei que lá, tem que usar só roupa de algodão, não pode isso, não pode aquilo...

Mas e antes? As gurias tinham o bebê. E aí? Não tinha álcool, nem fogo, por um bom tempo. E quando tinha, duvido que fervessem a água. O que elas faziam com o umbigo? Cortavam com os dentes e comiam até o toco, que nem gato e cachorro?

Acho que faziam o que os bichos fazem, por instinto. E com todas as limitações, a espécie sobreviveu e evoluiu.

Por isso fico achando que tem muita frescura hoje. Bom, óbvio que a taxa de mortalidade infantil devia ser estratosférica. Mas acho que isso também não tinha importância, já que as mulheres deviam parir que nem cadela de rua: uma vez por ano.

E quando morria um filho, o que elas faziam? A "maternidade" ainda não existia (aprendi em Sociologia que o conceito de maternidade como conhecemos, do amor mãe-filho, foi criado em Esparta porque o Estado não podia mais assumir a criação das crianças). Uma vez minha cadela pariu e quando cheguei em casa, muitos filhotes estavam mortos. Alguns destroçados, outros inteiros. Acho que algum cachorro entrou lá e matou os bichinhos. Enfim, tinha um inteiro, parecia que dormia. Eu tentava colocar o coitado no saco de lixo e ela ficava louca. Carregou ele para a casinha, colocou com os vivos e ficou mexendo nele com o focinho, lambendo.

O cachorro é bicho, age por instinto e não conhece conceito nenhum de maternidade, mas eu vi dor nos olhos dela quando, com muito custo, tirei o cachorrinho morto da casinha...

Por isso eu queria ver como era antes.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Do you promise?

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, – que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura! Quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!

...

You're aching, you're breaking
And I can see the pain in your eyes

Momento bizarro

Every time I think of you
I get a shot right through into a bolt of blue
It´s no problem of mine but it´s a problem I find
Living a life that I can´t leave behind

There´s no sense in telling me
The wisdom of a fool won´t set you free
But that´s the way that it goes
And it´s what nobody knows
And every day my confusion grows

Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I´m waiting for that final moment
You´ll say the words that I can´t say

I feel fine and I feel good
I feel like I never should
Whenever I get this way,
I just dont know what to say
Why can´t we be ourselves like we were yesterday

I´m not sure what this could mean
I don´t think you´re what you seem
I do admit to myself
That if I hurt someone else
Then we´d never see just what we´re meant to be

Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I´m waiting for that final moment
You´ll say the words that I cant say

domingo, 13 de setembro de 2009

Meu anjo Rafael

Há um anjo chamado Rafael. É o que diz a Bíblia.

Rafael é o meu anjo. Não aquele, louro de asinhas e auréola na cabeça. O meu Rafael tem cabelos cacheados sim, mas negros. E olhos verdes, profundos. E um sorriso como não há na Terra outro igual.

Mas o que meu Rafael tem de mais especial é tudo. Não sei se é afinidade, só sei que desde que o conheci soube que não poderia viver mais sem sua presença.

É amigo precioso e caro. Desses por quem se chora a ausência quando está frio ou chuvoso. É de quem primeiro me lembro quando o sol brilha nesse céu azul do Planalto Central e o dia promete.

É da sua alma que sinto falta nessa hora, quando o sol está se escondendo e a noite começa. As plantas exalam o cheiro da noite e ele viaja com a brisa, trazendo ideias de alegria, de oportunidade. Então eu penso que gostaria de me sentar ao lado do Rafael e escutar sua risada.

E todos os dias, então, me dói a consciência de que estou a mil quilômetros de distância.

Quando resolvi aceitar a vaga aqui em Brasília, pensei em como diria isso ao Rafa. Eu estava tão feliz, e queria que ele ficasse também. Quando cheguei aqui, num domingo cedo, o primeiro telefonema que recebi foi dele. E a cada nova descoberta, a cada nova sensação nesse lugar então estranho, lamentava não poder compartilhar com ele essas impressões.

Acho que o Rafa não vai ler isso. Ele não lê blogs e é ruim para responder e-mail... Mas isso não importa, porque ele sabe, porque eu não me canso de falar o quanto ele é importante para mim.

E só que eu senti necessidade de falar dele.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Motivos

Se eu escrevo isso hoje, é porque tive um sonho. Um sonho que, aliás, é recorrente. Sonho que voltei para a redação do DEBATE. É uma alegria indescritível. Pego meu bloquinho, minha caneta, e lá vou, cobrir a pauta. Realmente, a música dos teclados e das impressoras de uma redação é o som que me faz feliz.

Mas no meu sonho, logo vêm as preocupações: a pauta cai, não tem foto pra matéria ou, pior ainda, eu me esqueci de fechar os cromos antes de ir embora... Desespero total. No final, acordo aliviada por ver que, na realidade, não esqueci de fechar a capa e a gráfica não vai ter um atraso de horas por minha culpa.

E sempre que tenho esse sonho eu passo o dia recordando meu tempo no DEBATE. Quando comecei a trabalhar lá, pouco via o Sérgio; nossos horários eram trocados. Quando iam definir o Sérgio, as pessoas tinham sempre uma palavra na ponta da língua: bravo.

Realmente, o Sérgio chegava com cara de poucos amigos. E com pouca conversa. Mas não demorou para que eu entendesse o "funcionamento" disso. No início da tarde não adiantava puxar conversa com ele. Conforme o tempo ia passando e ele ia se envolvendo mais com as matérias do que com os problemas da empresa, o Sérgio tornava-se outra pessoa. Mais falante. Dava risadas. Isso, claro, depois das 18h, após muito café e muitos cigarros.

À noite, ele já estava totalmente diferente. Durante a madrugada, ele contava piadas, comentava as matérias e recordava muitos "causos". Sinto muita falta dessas histórias contadas pelo Sérgio.

E também não posso, eu, dizer que o Sérgio era "bravo". Porque ele foi um poço de paciência comigo. Me ensinou tudo que sei de jornalismo. Editar matéria, tirar foto, tratar foto, cuidar das cores, diagramar etc etc etc). Ensinou principalmente como farejar uma boa história, como diferenciar notícia verdadeira de secos e molhados. Habilidades que sempre me são úteis.

Lembro dele sentado em frente do computador, tratando a foto da capa. Eu, curiosa, reclamava que não entendia nada de cores. E ele dizia: "É fácil, olha só". E ia mostrando, como se fosse a coisa mais natural do mundo a gente meio que adivinhar a quantidade de ciano, magenta, amarelo e preto de uma foto na tela do computador.

E vi o Sérgio repetir isso com muita gente. O melhor diagramador que eu já conheci foi treinado por ele. Todo novo jornalista aprendia tudo com ele.

Hoje trabalho numa empresa grande que trabalha muito o "clima organizacional" e prega o discurso de desenvolvimento do empregado. Bom, no DEBATE, sem teoria nenhuma, tudo ocorria na prática. As pessoas lá têm chance de desenvolvimento. Quando cheguei, a secretária nem ligava um computador. Quando saí, ela diagramava o jornal e ainda sabia fazer fotolito.

E ela é só um exemplo. Mas todo mundo que trabalhou no DEBATE aprendeu a fazer de tudo e cresceu muito.

Mas (e isso é o principal) acho que o maior aprendizado foi observar a obstinação do Sérgio em fazer a coisa certa. Com a labuta do dia-a-dia, ele foi nos mostrando o que é ter caráter.

De quando saí do DEBATE 2

E esse foi o artigo que o Sérgio escreveu, quando eu saí. Foi o elogio mais gratificante que recebi em toda a minha vida. E acho que sempre será.

Ler, em algo escrito pelo próprio Sérgio, "DEBATE da Thelma", foi algo que me emocionou profundamente. Sei o quanto o jornal é caro ao Sérgio. Em uma cerimônia de aniversário do jornal, ele explicou que tem 4 filhos; um deles é o DEBATE.

Sempre senti o DEBATE um pouco meu filho também, com o perdão da ousadia. Um filho orgulhosamente parido toda a semana, com muito esforço, e que me deu tantas alegrias.

Uma jornalista de caráter

Sérgio Fleury Moraes
Da Redação

A jornalista Thelma Yeda Roder Kai já não faz parte da equipe de jornalismo do DEBATE. Aprovada em concurso público, acaba de assumir um posto no Judiciário de Santa Cruz do Rio Pardo. Resolveu, no linguajar jovem que também domina, “dar um tempo” no jornalismo, profissão que abraçou como poucos há aproximadamente uma década. No jornal, Thelma brilhou durante quase oito anos, período só interrompido por algumas semanas no início de 2001. Filha de uma educadora que já faz parte da história de Santa Cruz do Rio Pardo (Nilda Roder foi a primeira mulher a ter a coragem de se candidatar a vereadora na cidade, nos anos 60), foi no DEBATE que Thelma efetivamente abraçou o jornalismo e aprendeu os segredos — e principalmente os obstáculos — da profissão. Criou uma tal identidade que dificilmente deixará de ser conhecida como “Thelma do DEBATE” em pouco tempo. Mas o jornal também ganhou uma feição diferente com a jornalista integrando a redação. O “DEBATE da Thelma” diversificou sua linha editorial, ganhou suplementos e até ousou lançar, de forma inédita, uma revista mensal.Porém, acima da inegável qualidade profissional de Thelma Yeda Kai, está seu caráter. Há uma passagem na vida da jornalista que exemplifica isto. Idealista, acreditou em 2000 no candidato que acabou se elegendo prefeito de Santa Cruz. Confiou em seu discurso, achou que finalmente a cidade entraria num período de mudanças e quis fazer parte deste projeto. Convidada, aceitou assumir a assessoria de imprensa no início de 2001, mas logo percebeu que o sonho em que acreditou era, na verdade, um grande pesadelo.Conheceu a verdadeira personalidade do “novo” alcaide e, em menos de 15 dias, pediu demissão. Na primeira vez, o mandatário pediu-lhe que permanecesse no cargo, pois era apenas o início do governo e tudo iria mudar. Ledo engano. Mais alguns dias e Thelma Kai pediu o boné e voltou ao DEBATE — para ganhar um salário menor.Alguém pode imaginar a dimensão deste gesto, num momento em que o governo virou um cabide de empregos e altos salários passam a ser moeda de barganha entre apaniguados? Somente pessoas com caráter têm a coragem de tomar uma atitude como Thelma. Na verdade, esta jovem idealista sempre colocou a profissão acima das questões financeiras.É difícil imaginar o que leva alguém a trocar de profissão, mesmo que — acredito — por período determinado. Ouso arriscar alguns motivos, já que descarto a questão salarial. Thelma conheceu o quanto é difícil exercer o jornalismo independente numa cidade como Santa Cruz do Rio Pardo, onde os valores são totamente invertidos e quem se atreve a mostrar que o rei está nu é perseguido, difamado e ofendido. Aqui, aos olhos de muitas autoridades, o ideal é o jornalismo chapa-branca, com direito a “boas notícias” e, evidentemente, ao “mensalinho” no final do mês. Quem efetivamente defende a cidade e quer corruptos na cadeia, só pode estar conspirando contra a auto-estima de sua população.Neste quadro obscuro, acredito que Thelma Yeda Roder Kai cansou-se da instabilidade do jornalismo independente em Santa Cruz. Vai respirar outros ares, menos conturbados.Mas também ouso arriscar que o espírito inquieto da aguerrida jornalista vai falar mais alto em pouco tempo. O lugar de Thelma certamente não está nos escaninhos de um Judiciário entupido de processos. Seu verdadeiro espaço sempre será numa redação de jornal, embalada pela “música” dos teclados e impressoras. É ali que seus olhos brilham, sua alma sorri e Thelma se realiza.Por isso, ao agradecer publicamente todo o empenho de Thelma Roder Kai ao DEBATE, não quero, assim como todos os demais companheiros de redação, fazer deste texto uma despedida. Portanto, até breve, companheira.

De quando saí do DEBATE

Quando saí do DEBATE, enviei essa carta ao jornal:

Thelma Kai
Foi com enorme felicidade que me deparei, no último domingo, com o artigo escrito por Sérgio Fleury Moraes a respeito da minha passagem pelo DEBATE nos últimos anos. Mas peço licença para esclarecer um ponto muito importante.O que não foi citado no artigo é que na verdade não se pode esperar de um jornalista “criado” dentro do DEBATE uma postura que não seja, no mínimo, ética. Mesmo tendo passado por uma faculdade de Jornalismo renomada, não posso dizer que saí de lá preparada para o que iria encontrar no cotidiano da profissão. A maior parte dos jornalistas de cidades do interior não tem a chance que tive — iniciar a carreira dentro de uma redação que possui uma linha editorial honesta, ética, séria. Fui guiada, desde os primeiros passos, por dois nomes que são exemplos no meio jornalístico: Sérgio Fleury Moraes e Aurélio Alonso. Dentro da UNESP, o DEBATE sempre foi citado pelos professores (mestres e doutores em Comunicação Social) como um dos raríssimos exemplos de jornalismo sério fora da chamada “grande imprensa”. Da mesma forma, é um dos poucos a merecer generoso espaço no Observatório da Imprensa. Também não é todo dia que o editor de um caderno de prestígio como o Link do Estadão tece elogios a uma publicação do interior, não apenas pela qualidade gráfica, mas principalmente pela independência e pela seriedade. Em um reencontro com professores e colegas da faculdade há alguns anos, tive a satisfação de ser felicitada por ser uma jornalista do DEBATE — entre eles, alguns que desempenham brilhantemente suas funções em veículos de alcance nacional.Enfim, o que quero deixar claro é que ser jornalista do DEBATE é sinônimo de ser jornalista de caráter. Em qualquer situação, pois os que começam a carreira nesse local seguirão esse caminho e, no caso de profissionais experientes, o jornal não aceitaria ter em seu quadro “picaretas”.Mas só quem vivencia o cotidiano da redação do jornal santa-cruzense sabe quanto esforço foi necessário para que essa linha editorial fosse firmada e continue sendo mantida. Esse esforço significa, na realidade, uma abdicação por parte de seu fundador, Sérgio Fleury Moraes, e dos demais, de tudo que as pessoas consideram importante — tempo para o lazer, tempo para a família, conta polpuda no banco, saúde e até mesmo a fria e dissimulada “amizade” de autoridades. Tudo isso em nome do bem maior de outras pessoas — pessoas que amanhecem na porta do posto de saúde porque dependem de uma rede precária de saúde, que sofrem com a lentidão de uma máquina administrativa mal conduzida, que sonham com um futuro melhor para seus filhos matriculados em escolas municipais com avaliação inferior às da região.E depois de uma vida conhecendo os problemas das outras pessoas, não me espanta que o Sérgio tenha adivinhado com tanta facilidade os motivos que me levaram a deixar o DEBATE. Houve realmente um momento em que tornou-se insuportável a desilusão de constatar que os ares conturbados que respirava foram causados por um político outrora idealista que conheceu de perto as verdadeiras motivações dos jornalistas do DEBATE e mesmo assim insiste, diariamente, em pregar uma tal história de publicação de editais para disfarçar seu próprio fracasso e sua própria incompetência — para não falar de outros motivos. Mas muito pior é constatar que uma grande parcela da cidade não hesita em recorrer hipocritamente ao DEBATE como último recurso na solução de seus problemas — que são, via de regra, solucionados então — para depois se calar vergonhosamente diante das barbaridades apregoadas, a custo de dinheiro do povo, nos microfones servis de algumas rádios da cidade.Um bom jornalista precisa, acima de tudo, ser um indignado. E quando se acredita que nada mudará e que talvez as pessoas mereçam que nada mude, perde-se a capacidade de se indignar. Em um momento desses, creio ser mais honroso deixar o lugar vago para alguém que ainda acredite — como todo jornalista recém-formado — que é possível construir um mundo, um país ou pelo menos, uma cidade melhor.Mas as lições de vida — profissionais e pessoais — que tive no DEBATE carregarei comigo para sempre. Agradeço a meus colegas de redação por isso e desejo a eles que tenham sempre a disposição de continuar tentando mudar o que deve ser mudado. Até porque, se algo realmente mudar, poderei eu mesma acreditar naquele “até breve” e nas pessoas de uma maneira geral.PS: Quando criança, uma das fábulas que mais me encantava era justamente O rei está nu. Achava divertida a singela historinha sobre dois picaretas que conseguiam enganar uma cidade toda, apesar da obviedade do engodo. Mas é com infinita tristeza que constatei, ao passar dos anos, qual a diferença entre a fábula e a vida real. Na fábula, os cidadãos tinham apenas interesse pela verdade e medo de acreditar que seu rei estivesse mentindo. Na vida real, os cidadão já sabem a verdade, mas seus interesses são vários, e seu medo é justamente perder algo do seu interesse...
— Thelma Yeda Roder Kai (Santa Cruz do Rio Pardo-SP)

Do DEBATE

Editorial de O Estado de S. Paulo

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090627/not_imp393828,0.php

Sábado, 27 de Junho de 2009

A democracia e os jornais locais

O Brasil continua sendo o país onde mais se processam jornalistas no mundo inteiro. Realizado pelo site Consultor Jurídico e divulgado durante encontro internacional promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, o último levantamento do setor mostra que os cinco maiores grupos de comunicação no País empregavam 3.327 jornalistas, em 2007, e respondiam a 3.133 processos judiciais por danos morais e materiais. Além disso, enquanto o salário-base da categoria era de R$ 2.205, sem aumento real nos últimos quatro anos, o valor médio das sanções pecuniárias aplicadas pelos tribunais aumentou quatro vezes no período, passando de R$ 20 mil, em 2003, para R$ 80 mil.

E em um ano e meio a situação se agravou atingindo especialmente os pequenos jornais publicados nas capitais dos pequenos Estados e no interior das grandes unidades da Federação. Segundo o Consultor Jurídico, um terço dos periódicos de circulação diária, semanal e quinzenal filiados à Associação dos Jornais do Interior de São Paulo responde a algum tipo de processo na Justiça.

E boa parte dessas ações tem objetivo intimidatório. Elas são impetradas por políticos e autoridades que usam os tribunais para tentar cercear a liberdade de expressão dos jornais que circulam em suas bases eleitorais. É esse, por exemplo, o caso do jornal A Cidade, de Adamantina - uma cidade de 35 mil habitantes situada no noroeste do Estado de São Paulo. A publicação está sendo processada por ter reproduzido uma crítica feita ao prefeito da cidade por uma vereadora de oposição, durante a campanha eleitoral de 2008. Em vez de acionar a parlamentar, o prefeito decidiu processar o periódico, pedindo uma indenização de 200 salários mínimos - o equivalente a R$ 93 mil - por danos morais. Com um faturamento mensal de R$ 6 mil, o jornal terá de fechar, se for condenado pela Justiça. A audiência está marcada para setembro. Segundo o editor de A Cidade, Rubens Galdino, seria esse o verdadeiro objetivo do prefeito, que nem sequer pediu direito de resposta depois da publicação da crítica da vereadora.

Outra pequena publicação do interior que também está com sua sobrevivência ameaçada é o jornal Integração, de Tatuí - uma cidade de 103 mil habitantes, distante 130 quilômetros da capital. Por ter noticiado uma moção de repúdio apresentada por um vereador contra o conselho diretor da Associação dos Amigos do conservatório local, que extinguiu o cargo de diretor artístico da entidade e demitiu o maestro que o ocupava, o periódico responde a um processo por danos morais. O valor da indenização pleiteada pela associação equivale a 70% da receita mensal do jornal, que é de R$ 25 mil.

Um dos casos mais antigos é o do jornal Debate, de Santa Cruz do Rio Pardo - uma cidade de 42,5 mil habitantes localizada próximo a Ourinhos, na região sudoeste do Estado. O periódico foi acionado por ter noticiado que o juiz da comarca morava numa casa cujo aluguel era pago pela prefeitura e ainda usufruía de um telefone público em sua residência, o que é ilegal. Pouco após a publicação da reportagem, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou a suspensão do pagamento do aluguel e a devolução do telefone, o que levou o magistrado a entrar com um processo por danos morais contra a publicação. A ação já foi decidida no mérito, contra o jornal, e não pode mais ser objeto de recurso. O processo agora está na fase de execução e as partes agora divergem sobre o cálculo da indenização, que foi fixada em R$ 593 mil. Por não dispor de patrimônio para garantir o pagamento, o jornal fechará as portas, se esse valor for mantido.

A existência de jornais é essencial para o exercício do direito dos cidadãos à informação. Nas pequenas e médias cidades, as publicações locais são fundamentais para a vida comunitária e ajudam a estabelecer os canais de comunicação que garantem o pluralismo cultural e ideológico. É por isso que os tribunais precisam ser cuidadosos ao julgar as ações impetradas com óbvios fins intimidatórios contra os pequenos jornais do interior. Se não souber separar o joio do trigo, aplicando penas pecuniárias que levam ao fechamento dessas publicações, a Justiça poderá comprometer liberdades públicas que tem o dever de preservar e garantir.

Ascendência duvidosa?

No hospital, logo depois do parto, as enfermeiras conversam:

- O marido dela está lá, olhando a menina. Ele não é japonês.
- Ah, então puxou bem pra ela.

Uma delas me olha.

- Sua mãe é japonesa?
- Não.
- Então seu pai é japonês?

Eu espero um pouco. Paciência é uma virtude, mas eu detesto partos e estava pelas tampas com tudo no mundo. Além do quê, ignorância tem limite.

- Bom, se ele não é japonês, com certeza eu sou filha do padeiro ou do leiteiro...

Mais da ascendência

No Conjunto Nacional, no meu primeiro dia em BSB, na fila do restaurante. Um homem bem baixo para ao meu lado e fica me olhando. De vez em quando eu dou uma espiadela de rabo de olho. E ele lá, examinando...

De saco cheio do exame, fico olhando pra cara dele. O senhorzinho se achega e lança:

- Desculpe, que tipo de gente você é?
- Como?
- Você é brasileira?
- Sou.
- Mas não é daqui. De onde você veio?
- De São Paulo.

Ele pensa, pensa.

- Nunca vi gente que nem você. Que gente é?
- É japonês, do Japão.
- Nunca vi.
- Em São Paulo tem bastante. Aqui não tem?
- Tem nada. Você fala 'brasileiro' (sic)?
- Lógico que falo. Não estou conversando com você? Eu nasci no Brasil!

E saio fora da fila, completamente irritada, sob o olhar assombrado do senhorzinho...

Paraguaia

Da minha ascendência:

Em Bauru, no início da década de 90, um bêbado olha pra mim em um barzinho ao lado da Cachaçaria do Jão:

- Olha, uma paraguaia!
- Ela não é paraguaia, é japonesa - corrige meu amigo.
- Que nada, é paraguaia...

Anos depois, no jornal, o Aurélio, depois de ouvir a história, sentenciou: "Você é paraguaia mesmo. Japonesa falsificada".

Sinto falta do Aurélio. Ele ouvia minhas idéias sobre a vida e chegava sempre à conclusão de que eu era uma garota "rodrigueana". Eu morria de rir.

Mas como ele tinha umas intuições muito estranhas, escondi todas as facas com corte bom que tinha em casa...

Pegadinha

Veja lá, não confunda a mãe... Minha mãe é a de bolsa vermelha e blusa azul... A outra é a amiga dela, a Takako.

A Takako passou uns dias aqui em BSB. Ela sempre levava o lixo. Atendeu o rapaz que entregava minha revista. Passados alguns dias, ele voltou e, na conversa, soltou essa:

- Outro dia eu vim aqui e expliquei pra uma mulher, acho que é a sua mãe. Era sua mãe?
- Era, sim.

Porque sempre que saímos juntas, todo mundo confunde e eu já estou cansada de explicar. Só se for muito necessário mesmo...

Instinto original

E eu, como cria de bicho homem que sou também, naturalmente nasci de um instinto. Foto da minha mãe, culpada disso tudo.

Instintos 2

Resultados de instinto 1 e de instinto 2, logo abaixo.

Brincadeirinha, são meus filhotes queridos. Mas que são cria do bicho homem é um fato inegável...