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Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Insanidades

Uma colega de trabalho fez uma obsevação sobre o que eu julgava ser um tipo de segredo. A conversa seguia e calhou em um ponto tipo família; e ela perguntou:
- Mas você não vai ter outro filho? Você disse que ia ter.
Primeiro, achei que ela estivesse doidinha, atrapalhada. Mas ela foi me fazendo recordar de frases ditas há seis meses, já esquecidas e que parecem ter sido ditas em uma vida passada.
É, há seis meses eu queria outro filho. Meu contentamento e felicidade baseavam-se nisso: filhos me completam e é só o que eu quero agora, uns 10, se puder.
Então eu disse a ela: - Esqueça isso. Eu estava louca. Agora acordei, sou eu mesma de novo.
Ela riu e repetiu sua opinião sobre eu ser uma "figura". E eu expliquei, o mais objetivamente possível, que tenho várias dentro de mim, que brigam, e são insanas.
- Todo mundo é assim, Thelma. Mas ninguém deixa isso tão à mostra, só você.
Foi uma revelação! Todo mundo tem insanas, mas conseguem dominá-las.
Eu nunca pude com elas. Acabam comigo, todo dia.

Jornal

O que o Sérgio escrreveu parece uma profecia:

"O lugar de Thelma certamente não está nos escaninhos de um Judiciário entupido de processos. Seu verdadeiro espaço sempre será numa redação de jornal, embalada pela “música” dos teclados e impressoras. É ali que seus olhos brilham, sua alma sorri e Thelma se realiza.Por isso, ao agradecer publicamente todo o empenho de Thelma Roder Kai ao DEBATE, não quero, assim como todos os demais companheiros de redação, fazer deste texto uma despedida. Portanto, até breve, companheira."

Mas não é. É apenas um texto sincero escrito por uma pessoa que me conhece bem demais. Acho que só haveria um remendo: não são os escaninhos de um Judiciário entupido de processos. Talvez sejam os escaninhos do serviço público entupido de burocracia.

Amigos

No início de 2011, depois de uma viagem cansativa para passar o Natal com minha família, tive o insight: em 2010 vi meus amigos mais queridos apenas uma vez. Não passamos nem mesmo um dia todo juntos. Isso inclui amigos da faculdade, amigos de infância, amigos de adolescência e meus amigos mais novos. E muitos amigos eu sequer vi.
Lembrei-de da frase da Selma: "a vida é muito curta para a gente passar longe dos amigos".
Há mais de 10 anos tenho para mim que já encontrei o sentido da vida (da minha pelo menos, que é a que mais me interessa): momentos. Viver momentos. Levar apenas o que vivi.
Então iniciei 2011 refletindo que tenho levado uma vida muito da besta: trabalho, vou pra casa, vou pro trabalho, volto pra casa. Nos finais de semana, passeio com a família.
Quem me conhece sabe que espero mais da vida. Quero fazer compras de manhã, trabalhar com algo que não seja a prostituição do meu amor pela palavra, sair com meus filhos todos os dias para fazer o que eu tiver vontade, namorar e ver meus amigos, e beber, e mandar o mundo todo à merda. Todo dia.
Por que agora não consigo mais? Fazia isso com três empregos e viajando para SP toda semana para a pós...
A vida ficou rápida, os horários são apertados, a rotina é pavorosa. O que mudou? Virei funcionária pública.
Engraçado que minha mãe sempre (sempre mesmo, desde que eu terminei o ensino médio) me torrou a paciência querendo que eu fizesse concurso (BB, imagine!). E eu sempre tive horror.
E eu sempre soube que tudo que minha mãe achava adequado para mim era o que mais me faria infeliz.
Como vim parar, então, nessa armadilha?
E só acordei porque vi meus amigos, mesmo que por menos de um dia todo, em 2010.
Meu coração está com eles, minha vida e minha alma. E a minha felicidade.

Desarrolo

Sei que o sentido da palavra não tem nada a ver com isso, mas me veio à mente: desarrolo. É a palavra que ilustra minha vontade, de "desarrolar" as palavras por aqui, em cascata, em enxurrada, como na Região Serrana: varrendo tudo pela frente e deixando para trás apenas um terreno limpo, onde se possa novamente começar.
Estamos no começo de fevereiro, mas já preciso de outro Ano Novo.