Quem sou eu

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Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

domingo, 22 de junho de 2008

Conselhos

Sempre tive amigos de todos os tipos e dentre eles, sempre gostei dos mais velhos. Podiam ser, em alguns momentos, monótonos. Mas tinham sempre algo a dizer; tinham vivido e podiam falar com a certeza que só possuem os que já testaram uma invenção.

Um desses amigos gostava de escrever e foi ele quem me apresentou música brasileira de boa qualidade, filmes cults que antes eu considerava chatos, e Márquez, pela insistência em que eu pelo menos corresse os olhos por uma de suas obras.

Em uma de suas crônicas, esse amigo divagou sobre nossa breve existência, consolidando-a na constatação de que nossas orelhas ficam maiores quando ficavamos velhos, e em uma conclusão muito sábia: quando nascemos, começamos a morrer.

É isso. Portanto, meus queridos, carpe diem.

Finalidades

A quem possa interessar. Se é que interessa a alguém. Mas é que a escrita sempre foi para mim a melhor forma de me expressar.

Lugares

Talvez por isso esse desassossego, essa busca incessante por algum lugar em que minha alma encontre paz. Como se, mudando os móveis, as roupas, os amigos e o horizonte, eu pudesse escapar desse momento do dia que, na verdade, existe em qualquer lugar do globo.

Achei que em Brasília escaparia e quase foi verdade. Em quase dois anos, creio que hoje foi a primeira vez em que ele me alcançou. Como se nos conhecêssemos, mas eu houvesse fugido enquanto ele estivesse preso em algum tipo de manicômio. Em liberdade, porém, a primeira coisa que fez foi sair no meu encalço, até me encontrar.

E alcançou-me exatamente enquanto dirigia pelo parque. Tão real e palpável, que pude sentir sua aproximação. Mas não fugi, nem senti vontade; ao contrário, fiquei feliz como alguém que reencontra um velho amigo. E deixei-me envolver por ele. Pude até sentir o cheiro da dama-da-noite.

Ter uma alma velha

Tudo isso porque hoje me perdi nas páginas de "Memórias de minhas putas tristes", de Gabriel García Márquez. Adoro os livros de Márquez e de Llosa, mas, e talvez justamente por isso, têm sempre um efeito devastador sobre mim.

O tom de nostalgia, acrescido de descrições brilhantes, é para mim como uma lembrança. Como se eu tivesse passado por tudo que eles viveram. Na verdade, o que há em comum entre nós é o modo de se referir ao passado; é a saudade latente que salta das linhas impressas nas folhas frias para tomar vida dentro de mim.

Apenas em duas épocas do ano sinto isso tão profundamente: na última semana do ano, em meio às festas do Natal e do Ano Novo, e no inverno. E sempre no final da tarde. Àquela hora em que o dia ainda não acabou, mas tampouco é noite. O céu ainda tem mais de uma cor que o azul, o sol é apenas um fantasma que teima em não encontrar seu fim, e as primeiras estrelas são apenas perceptíveis.

Ainda criança, costumava subir no ponto mais alto do muro da casa de minha avó para ver o pôr-do-sol e sentir a noite me envolver. Não tinha ainda 15 anos, mas já sentia tudo isso. Não sabia que era nostalgia e fico a imaginar como pode uma criança sentir algo parecido. Talvez fosse a nostalgia de minha alma velha pelas minhas vidas passadas...

A Nostalgia

Na efervescência e efemeridade dos meus 20 e poucos anos, visitei uma mulher que se dizia vidente. Disse-me ela, naquela ocasião, muitas coisas que acabaram se confirmando. De tudo que foi dito naquele quarto simples e cheio de penduricalhos religiosos, o que ficou gravado em minha alma foi apenas isso: "Você tem uma alma muito velha". Explicou-me ela que minha alma já havia estado na Terra muitas, muitas vezes, e vivido demais.

Mesmo naquela época já tinha essa impressão. Eu sentia, sim, como todas as pessoas da minha idade, a urgência de viver, mas não como se fosse viver as coisas pela primeira vez. Era como se as quisesse viver por sabê-las boas. Não era mais sábia que os outros; também dei muitas cabeçadas e aprendi pelos piores caminhos. Porém, ao fim de tudo, as conclusões nunca me impressionaram: já as tinha eu vivido anteriormente.

sábado, 12 de abril de 2008

Quinze anos atrás.

- Pára!

Indiferente ao grito, Adriano levanta a mão e desce novamente. Dessa vez, fechada. Acerta o nariz de Débora. Gotas de sangue espirram e mancham a blusa azul de Adriano. Quando ela cai, bate a testa no canto da mesinha da sala, deita-se de lado e leva os braços ao rosto, para protegê-lo.

Impulsivamente, Adriano vê livre o espaço e com os pés, acerta a barriga. Uma, duas, três vezes. Débora começa a tossir e agita os braços. Bate a mão nos pés da mesa, tateia, encontra a ponta da toalha e puxa. O vaso cai e se estilhaça. Rastejando e tentando fugir, Débora corta as mãos e os braços nos cacos.

Barulho de chave na porta.

- O que você está fazendo?!?!

André entra na sala, empurra Adriano e se agacha ao lado da moça.

- Levanta, Débora, vem comigo.
- André, deixa essa vaca aí! Agora! - os olhos vidrados.
- Não! Sai daqui ou eu chamo a polícia! Agora! - os olhos em fúria.

Adriano senta-se no sofá e coloca a cabeça entre as mãos. De olhos fechados, só escuta o choro da garota, entrecortado pela tosse. A porta nem foi fechada. Após ouvir o som da porta do elevador, levanta a cabeça e vê o vizinho da frente, parado, observando.

Levanta-se e fecha a porta com um estrondo. O chão está cheio de respingos de sangue. Sua mão direita também, nos ossos dos dedos. Mais pingos na camisa.

Com uma urgência frenética, Adriano vai até o banheiro e lava as mãos. Tira a camisa e, antes de jogar no cesto de roupas sujas, hesita. Embola a roupa e joga no cesto do lixo.

Segue até o quarto e abre o guarda-roupas em busca de uma nova camisa. Na porta direita, o espelho. Adriano vê a sua imagem refletida. O rosto transtornado, vermelho, suado. No canto superior do espelho, Débora olha da fotografia e sorri para ele. Segura a foto nas mãos por um instante, antes de amassá-la e atirar pela janela.

Olha novamente para o espelho, para os olhos daquele rosto que não reconhece. E chora.
"Droga".

No meio da coxinha, uma lasquinha de osso de frango surpreende a voracidade de Adriano. Com a unha, ele retira da gengiva o incômodo intruso. Ao verificar o dedo, percebe a unha grande e suja, e agora, com um pouco de sangue, que ele imediatamente limpa no guardanapo.

Forma-se pequena nódoa vermelha no papel.

Mais dialetos

Sou da geração anos 80 e gosto sim de Legião Urbana.

Morar em Brasília ajuda a entender algumas coisas. "Se encontraram então no Parque da Cidade, a Mônica, de moto, e o Eduardo, de camelo".

Sempre imaginei como um parque sem nome podia ser uma referência tão exata. Deveria ser "em um parque da cidade". Well, o parque chama-se Parque da Cidade "Sarah Kubitschek", popularmente conhecido como "o Parque".

E o camelo é o mais legal. No dialeto local, camelo é bicicleta.

Bizarrice

E outro dia alguém comentou comigo que sente "muito orgulho" porque o povo em Brasília pára na faixa.

Cara, o que você diz nessa situação? Já me disseram do orgulho da cidade planejada, do céu azul, do pôr-do-sol, do lago, da Ponte JK (que é mesmo estupenda)...

Mas você morar em um país que tem uma das mais altas taxas de morte no trânsito do mundo, na cidade em que os políticos tomam as decisões toscas que contribuem para isso, e sentir orgulho da faixa?

É bem verdade que a pessoa não serve de parâmetro... Uma pena, porque eu acabo misturando os juízos de Brasília e da pessoa. Que, aliás, nem daqui é...

Inconvenientes

O duro da faixa é que você acostuma com elas. Então em São Paulo ou outras cidades eu costumo ir metendo o pé.

Perigoso isso. A taxa de brasilienses mortos por atropelamento em outras cidades deve ser muito alta.

Impressões again

No meu primeiro final de semana em Brasília, perguntei onde poderia almoçar.

Indicaram "a comercial da 306" (ou 5, sei lá), onde havia um Giraffa´s.

Foi uma longa, longa, longa explicação sobre como chegar até lá. Não que fosse difícil. Eu é que não entendia exatamente como "pegar a entrequadra e descer a comercial", quando, descobri depois, bastava dizer que eu devia seguir em frente, sempre reto, só atravessando as ruas.

Na primeira rua, a avenida W3, havia um semáforo. Ok.

Entre a entrequadra da 705/706 e as 500, não havia semáforo, nem faixa, e nem carros também. Ok.

Para atravessar das 500 para as 300 havia uma faixa, mas nenhum semáforo. Eu parei na beira da calçada para esperar os carros.

Aí o cara parou o carro e ficou. Ele ficou, eu fiquei. Veio um carro ao lado dele e parou também. E eu lá. O motorista do primeiro carro fez sinal para eu que eu passasse.

Quando retornei do almoço e contei na pousada, todo mundo riu.

Eu não sabia que em Brasília os carros paravam na faixa. Se tivesse chegado aqui de carro, com certeza iria presa por atropelar o pedestre na faixa. Acha que eu ia parar?

Da série "Minhas frases mal interpretadas"

- Eu gostava de enfiar o dedo no buraquinho e ouvir o barulho.

O contexto: o assunto era o telefone antigo, de discar.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A música parou.

- Vamos embora, a festa acabou - Adriano segura o irmão pelo braço.

- Espera, deixa eu terminar esse copo.

Com um suspiro fundo, Adriano deixa o corpo cair na cadeira, enquanto André beberica com esforço sua bebida.

As luzes se acendem e pela primeira vez na noite, Adriano consegue ver as pessoas. "Interessante".

- Me diz uma coisa, André. Com qual dessas aí você estava enrabichado?

André derruba o copo e começa a rir. Joga o corpo para trás e olha em volta, com o dedo apontado, procurando.

- Aquela... não. Opa, aquela, não tambem....

- Me diz como ela é. Chamava Diana, é?

André atira-se de bruços na mesa, rindo até engasgar. Aos poucos, levanta a cabeça e, com a mão cambaleante, aponta para a porta.

- Tá vendo aquele cara ali, de terno branco? É o Diogo, com quem eu dividi o apê por dois anos. Pois então... Pois então, é ele a "Diana" que eu te falei...

André derruba novamente a cabeça na mesa e recomeça a rir. Adriano levanta-se, pega a paletó pendurado na cadeira, olha para o irmão e junta-se à multidão que deixa o salão, sem olhar para trás.
Dez anos atrás. Festa de formatura do André. Centenas de pessoas embriagadas, cantando de mãos dadas uma música brega de uma banda que acabou porque o vocalista morreu.

- Cara, que bom que você veio. Eu ia ser o único aqui sem família - as palavras se enrolam na boca de André, a essa altura despenteado, com a camisa aberta e o suor escorrendo pela testa.

Cinco horas antes. André passa insistentemente o pente pelos cabelos melados de gel. Puxa a cabeça para trás, olha de um lado, olha do outro. Recomeça a pentear.

- Isso já está ótimo. Vamos logo ou vamos chegar atrasados.

Adriano sentado no sofá, observa seu irmão mais novo. "Meu irmão certinho". Formando em Direito. Terno novo, apartamento bacana. "E eu..."

- É, já está bom mesmo.

Silêncio no carro. O rádio começa a tocar uma música antiga. Adriano automaticamente se lembra das festas do bairro, do cheiro da noite. Mistura de perfumes baratos e das flores dos jardins.

Mais sete anos atrás. Meninos levam um refrigerante. Meninas levam um prato de salgados. Discos de vinil, luzes apagadas e música lenta.

- Você ia ficar muito chateado se encontrasse a Débora lá?

"Tinha que perguntar. É uma besta mesmo".

- André, olha aqui, hoje é a sua formatura...
- Tá, eu sei. Esquece, nem sei porque eu perguntei. Foi a música. Eu lembrei, só isso.
- Mas então você mandou um convite pra ela. Mandou?
- ....
- Responde, droga.
- Mandei sim. O que é que tem? É minha amiga!

Adriano encosta o carro. Acende um cigarro e desliga o rádio.

- Eu vou falar, mas sei que não adianta. Você tem que parar com isso, André.
- Não precisa falar, já parei. Mandei o convite por educação, só. Ela nem iria mesmo.

Adriano dá uma tragada, funda, e solta a fumaça devagar, observando os desenhos que se formam. Dá a partida no carro e engrena a primeira marcha. Com o cigarro entre os dentes, conclui a primeira conversa da noite.

- Se tiver vergonha na cara, não aparece mesmo.
"R$ 2. Não, R$ 2,40. Pra um salgado deve dar".

Guarda as moedas novamente no bolso da calça e dirige-se a um boteco. "Mais um lugarzinho sujo". Salgado, R$ 1,50.

- Me vê uma coxinha.

Enquanto come, Adriano repara que o balconista é parecido com André. "Aquela besta".
"Lugarzinho feio".

Saindo da escada rolante, Adriano vê pela primeira vez em horas o céu da cidade. Chuva. Frio.
Bate as mãos no bolso do casaco para conferir se está tudo certo e fica tranqüilo.

"Se eu conseguir pelo menos R$ 500, pego o primeiro ônibus pra fora daqui".

As pessoas vão e vem, com seus casacos e bolsas. O chão está molhado e cheio de papéis. "Melhor".

Mulheres puxando crianças pelas mãos, homens de terno. Ainda não. Meia hora depois, um homem de barba e chapéu surge da escada rolante. Fica parado, olhando para os lados. "É esse".

Adriano começa a andar, apressado, e esbarra no outro homem. Murmura uma desculpa e segue em frente, mas de repente se volta e apanha algo do chão.

- Senhor, acho que deixou cair isto - e estende o par de alianças pregado a um quadrado sujo de papel grosso.

- Não, não deixei cair nada - balbucia o homem.

- Não são suas? Puxa, mas de quem...

Adriano olha em volta, procurando alguém que não existe.

- Acho que não vamos encontrar o dono. Olha só, que azar, alguém perder um par de alianças bem aqui. Devíamos entregar para alguém... Mas esses funcionários não têm cara boa, duvido que procurem o dono.

Olha para o homem, fazendo-se de desconfiado.

- Já que nós achamos, poderíamos vender e repartir o dinheiro.

Olha em volta de novo.

- Pena que aqui não tem nenhuma loja de jóias, senão poderíamos vender já. Mas eu conheço um lugar lá no centro que.... ah, que pena, hoje não posso ir até lá. Mas se você me der a metade do valor, eu deixo você levar e...

- Rapaz, está pensando que eu sou idiota? Suma daqui, ou eu chamo a polícia - o homem já está com um celular nas mãos.

Adriano sai, na chuva. "Está ficando difícil".

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Descrição

É fácil pegar a poesia de alguém e colocar como descrição. Fácil, rápido, impessoal, seguro.

De mais a mais, seria meio vaga a descrição real: "Eu sou uma pessoa que se apaixona".

Tentativas de esclarecer seriam meio patéticas: "Eu sou uma pessoa que se apaixona por cidades (todas), por pessoas (muitas, de todos os tipos), por bichos (e eles sempre morrem cedo demais), por cantores de bandas famosas (de qualidade boa, duvidosa ou sem qualidades também), por personagens fictícios como Peter Pan, Super Homem, Homem Aranha, Luke Skywalker e Darth Vader (fictícios para os outros, claro) e por robôs alienígenas."

Engraçado que, espontaneamente, escrevi robôs alienígenas depois, fora da categoria "personagens fictícios".

Vai ver é por isso que eu não acho graça nos filmes de "amores-impossíveis-que-se-tornam-possíveis-no-final-apesar-de-forçar-muito-a-barra-tipo-o-da-prostituta-que-fica-com-o-milionário-no-final".

O Orkut está infestado de "filmes preferidos: Uma Linda Mulher".

"Echoing Miranda in The Tempest, he exclaims: 'O brave new world that has such people in it.' " - Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley.

Boa notícia

Que bom. Agora apareceram vários anúncios de carros blindados no blog.

Está ficando interessante.

Sinal dos tempos 3



Na loja de brinquedos, procurei o Optimus Prime. Não tinha.

Tinha o Bumblebee. Lindo, lindo. Custava quase R$ 500.

- Não vou comprar um brinquedo que custa mais do que uma família ganha por mês no Brasil. É desumano. Devia ser proibido vender brinquedo nesse preço. É indecente.

Levamos o Ironhide, oficial de armas, que vira a Picape GMC. Acho que custou meio salário mínimo.

E, ah... Made in Taiwan.

Da Série "Eu esqueci!"

Programa de domingo: cinema. Sem muita empolgação. Filme de criança.

Começa o filme. Legalzinho. Efeitos bons. Tiradinhas engraçadas.

E foi de repente. Aquela coisa enorrrrrrrrrrrrme diz:

- Eu sou Optimus Prime.

Calafrio.

Mais para a frente, a coisa enorrrrrrrrrme diz:

- Autobots, vamos rodar!

Quase chorei. Sabe o que é uma lembrança de duas décadas explodir dentro do seu cérebro? Eu senti culpa.

Eu adorava Transformers. Eu tinha Transformers. Eu sonhava em ter o Optimus Prime, de verdade, que nem o menino do desenho. Eu tinha inveja daquele menino, e ela me roía por dentro todos os dias.

E eu simplesmente havia esquecido... Não lembrei nem mesmo quando vi o cartaz do filme. Quando vi o nome do filme. Quando o Bumblebee se transformou.

Putz, eu queria rebobinar o filme no cinema. Quase comprei outro ingresso para a sessão seguinte, mas como sou adulta, madura e normal, achei melhor não.

Em vez disso, fiquei azucrinando a mulher da locadora, todos os sábados: "Chegou Transformers?".

Quando, de saco cheio e de maneira meio ríspida, ela disse que o filme só chegaria em novembro (seriam uns dois ou três meses), corri para a internet.

O DVD custava mais de R$ 100.

E só não comprei porque estava esgotado.

Sinal dos tempos 2

O que me faz recordar daquele filme péssimo com o Bruce Willis e a Liv Tyler, Armagedon.

O filme é uma droga, piegas até o fim, mas tem duas cenas que eu achei interessantes.

1) O velhinho que descobre o asteróide gigante diz: "É verdade que quem descobre pode dar o nome, não? Quero dar o nome da minha mulher".

Foi a descrição mais fiel e sucinta que eu já vi do fracasso da instituição família e da lenta morte do amor. Mais ou menos o conteúdo todo de "Ensaios de Amor", do Alain de Botton, sintetizado em duas frases.

2) O astronauta russo e a astronauta americana tentando consertar alguma coisa antes que a estação espacial exploda. Ela: "Não mexa em nada, você não conhece os componentes". Ele: "Componentes russos, componentes americanos... Tudo made in Taiwan!".

Dessa eu morri de rir.

Sinal dos tempos

Na maior loja de brinquedos de um shopping em São Paulo:

- Eu compro um brinquedo para você. Só tem que ser brasileiro. Nada feito na China ou na Coréia, que não presta, quebra antes de chegar em casa.
- Esse é made in Taiwan.
- Esse também.
Chega um vendedor:
- Posso ajudar?
- A gente quer um brinquedo brasileiro. Não tem?
- Claro que temos! Esse aqui, por exemplo....
Vira o brinquedo de cabeça para baixo. "Made in Taiwan".
- Oh, me enganei. Acho que é esse....
"Made in Taiwan".
- Bom, esse é da Estrela, é brasileiro, quer ver?
"Fabricado na China e importado por..."
E assim, um por um de todos os brinquedos da loja foi virado de cabeça para baixo. Tudo made in Taiwan.

Eu acho que o Apocalipse está próximo.

Medos

Medo do Alien. Eu tenho mais de 30 anos, mas toda vez que assisto Alien, tenho que olhar embaixo da cama antes de dormir. Eu sempre juro que não vou ver o filme de novo, mas não resisto. Já fazia isso com os filmes de vampiro quando era criança.

Mas tem filmes que eu nunca mais vou assistir, porque tenho muito medo:

- O Exorcista;
- O Chamado;
- O Sexto Sentido.

Alguns medos a gente supera ou modifica. Medo de morrer. Eu tinha pânico de morrer quando era criança. Passava horas na cama, de noite, com os olhos esbugalhados, tentando enxergar no escuro e imaginando que no caixão devia ser igual. Até ter o pensamento de que, morta, não ia conseguir abrir os olhos, o que na realidade piorava tudo.

Depois que tive um filho, o medo de morrer amainou. Foi superado por um pior, horrível, que nunca dá descanso: medo do meu filho morrer.

Mas se não tenho medo de morrer, tenho uma frustração. Morrer pode ser até uma experiência cool, mas não tem a menor graça se eu não puder contar como é pra alguém que esteja vivo. Eu sou fofoqueira.

Manias

Eu desenvolvi uma receita própria de miojo quando morei sozinha, na faculdade. E é nojenta.

Miojo cozido e escorrido. Jogo o pozinho por cima do miojo seco e misturo. Mais umas três colheres de maionese e pronto, a gororoba. Se jogar na parede, não sai mais.

E quando meu filho era pequeno, misturava toda a comida do prato com a colher e ficava batendo até virar uma coisa só. Ele dizia que era uma "paióia".

Doçura

Falando em infância, eu sempre me lembro dos meus desejos anormais de criança relacionados à comida. Tinha uma propaganda em que o menino vendado passava o dedo no tijolão de presunto e lambia, para adivinhar qual era o Sadia.

Eu vivia pensando que, quando crescesse, eu ia comprar um tijolão daquele e comer sozinha, a dentadas.

Também achava que ia comprar quilos de miojo para comer crus, sozinha.

Queria comer a lata toda de atum sozinha.

Eu tinha dois irmãos e tudo que eu comia tinha que ser dividido.

Semana passada fui ao mercado e comprei uma garrafa de suco e três miojos. Que comi cozidos.

Inocência

Porque é realmente um saco você ficar achando mensagens em tudo. Quando assisti "Formigas" com meu filho, foi deprimente.

O menino todo empolgado com o filme (a animação é muito boa) e eu viajando sobre a luta das classes. O poder e os operários.

É um vício, sabe? Quando eu tive aulas de datilografia (no meu tempo, a gente usava máquina de escrever), eu adquiri uma mania bizarra. Tudo que eu falava ou pensava tinha que ser mentalmente datilografado. Quando me deitava para dormir, ficava pensando e sentia as pontas dos meus dedos batendo nas pernas.

Decifrar as mensagens dos desenhos é um vício também.

Tudo é proibido

Enquanto trabalho, vivo pensando que quando estiver de férias vou almoçar vendo Sessão da Tarde. Não tem metáfora melhor para desocupação.

Minhas férias acabaram e não lembro de ter feito isso.

Então hoje, que estou de folga, resolvi fazer. Eu e meu prato de miojo bem nojentão.

Só que não está passando Sessão da Tarde, oras. É algum compacto do carnaval. Eu até ia tentar, mas a primeira coisa que vi foi um carro alegórico com umas pessoas vestidas de frango assado...

O que salvou o almoço foi o Pica-pau. Aquele desenho em que ele tenta descer as cataratas do Niágara em um barril.

Mas tão logo o desenho acabou, eu filosofei sobre a mensagem do desenho: tudo que é legal é proibido.

Depois que eu tive aulas de semiótica, o mundo ficou bem chato - principalmente os desenhos animados.

Talento

Eu queria muito ter o dom de escrever livros de auto-ajuda.

Deve ser legal ganhar rios de dinheiro sabendo que ajudou (vamos lá, vista a fantasia) alguém.

Mesmo que a crítica diga o contrário.

Rumo errado

Os anúncios do Google, segundo o próprio, são colocados no seu blog de acordo com o conteúdo. Uma tal ferramenta (mágica) separa as palavras do blog e decide que anúncios colocar.

Bem, eu já vi hoje anúncios de "cabelos mais bonitos", cirurgia plástica e um "Deus ama você".

Acreditando ou não na tal ferramenta, acho prudente virar o leme do barco.

Reais motivos

E essa filosofia toda a respeito da padoca, do sanduíche, das cidades, tem apenas um motivo.

Na real? Eu tenho um caminhão de coisa pra fazer e não tô nem um pouco a fim.

Tem dias em que eu penso umas coisas pra escrever no blog. Depois eu esqueço. Comprei a Veja essa semana e achei duas ou três coisas legais para comentar, mas esqueci a revista no trabalho. Observação: eu não gosto da Veja, mas devido à capa dessa semana, tive que comprar por motivos profissionais. E já que paguei, bora ler tudo, de cabo a rabo.

Aí porque estou com preguiça de fazer as coisas, sento aqui e me ocorrem todas essas bobagens aí embaixo.

É contraditório, mas a preguiça é boa conselheira para a criação.

Sem malícia

Mas não me entendam mal. Não acho que por isso Brasília seja melhor ou pior que São Paulo.

Acho gozado o estereótipo que as pessoas fazem das cidades. Brasília, por exemplo, é conhecida pelo alto índice de suicídio de jovens. Dizem que as pessoas são muito isoladas, distantes, e por isso, depressivas.

Logo que cheguei, uma mulher se jogou do alto do shopping. E tem um cara no meu trabalho que se jogou do sexto andar, mas não morreu.

Em um ano, não conheci suicidas potenciais. Nem deprimidos. Bom, conheci uma pessoa assim, vá lá.

Então... eu me divirto com essas coisas.

Diferenças

Estou há mais de um ano morando aqui, nesse mesmo ap. O povo do caixa da padaria e do supermercado nem me olha quando vou pagar.

E acho que se eu perder a comanda, chamam a polícia.

Frio

Se você for duas vezes à mesma padoca, em dias seguidos, o cara do caixa vai puxar papo. Ao final de um mês, vocês vão ser grandes amigos.

Quando mataram o coronel lá que estava investigando as chacinas na Zona Norte de SP, o Estadão entrevistou o dono da padoca onde ele tomava café todos os dias há anos. Quem traçou o perfil do coronel para o público não foi seu irmão, sua mulher, ou outro da família. Foi o dono da padoca quem falou sobre o coronel.

No final do ano, fui jantar com meu marido perto do trabalho. Nem pra jantar tinha comanda. A gente disse o que tinha comido, e pronto. E o cara perguntando se ele tinha ido para o interior, se tinha visto a família, se o Natal e o Ano Novo tinham sido legais. A mesma coisa quando fomos tomar café na padoca.

Meu marido estava morando em São Paulo há quatro meses e, pô, o cara do caixa do boteco e o cara do caixa da padoca sabem tudo da minha vida por tabela!

Aí tem uns seres anormais que dizem que o paulistano é frio.

Padoca


Só esse lance da padaria continua incomodando. Escolher no menu um café expresso e um sanduíche de peito de peru light e esperar um garçom trazer até a mesa foi legal. Mas foi estranho.

Não pude deixar de lembrar das padocas. Não conheço outro lugar onde padaria seja padoca a não ser São Paulo.

Padoca mesmo, com aquele balcão de padoca, quadrado, no meio do lugar. Os carinhas vestidos de branco com chapeuzinho engraçado, e o cafezinho (de "coadô") servido em copo americano que tem até cheirinho de pinga 51 lá no fundo.

Você sai de casa de manhã e pára na primeira esquina. Sim, São Paulo tem esquinas e as esquinas têm padoca, quase sempre. Pede o misto quente, que não custa R$ 2,50, e o cafezinho. E vai pagar no caixa.

Ninguém anota nada no papel (porque esqueci de comentar, o meu gigantesco pedido na padaria do Sudoeste foi anotado em uma comanda...). Você chega no caixa e diz o que comeu. O cara não confere com ninguém para saber se foi isso mesmo.

E aí tem uns seres anormais que vivem dizendo que paulistano é desconfiado.

Inconstância

Voltando para casa e tendo certeza de que adoro Brasília, me ocorreu o pensamento. Quando fui para São Paulo no final do ano, tive certeza de que adorava São Paulo.

Eu chamava isso de adaptabilidade. Qualquer lugar serve, eu me acostumo. Mas não é só isso, eu não me acostumo apenas.

Eu me apaixono. Muito rápido. Acho que sou é volúvel.

Sudogay

Comendo o "sanduíche de peito de peru light com queijo", reparo que há mais três mesas ocupadas. Um casal, um pai e seu filho, e dois amigos.

Durante a degustação do sanduíche, escuto as conversas. Não são pai e filho. É um casal gay. Não são dois amigos. É outro casal gay.

Lembro-me, instantaneamente, de uma reportagem publicada no Jornal de Brasília há algumas semanas:

"O Plano Piloto é a região mais 'arco-íris' do Distrito Federal. Este foi o resultado da enquete realizada pela Organização Não-Governamental (ONG) Estruturação - Grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) de Brasília, divulgada ontem. Entre os dias 4 e 20 deste mês, internautas desse segmento responderam à dúvida sobre quais cidades do DF possuem mais LGBT, proporcionalmente à sua população.
A votação foi feita pelo site Paroutudo.com, que recebe, em média, três mil visitantes por dia. O Plano Piloto ganhou o título de cidade mais gay e bissexual masculino (40% dos votos) e mais lésbica e bissexual feminino (39%), que eram duas das três categorias a serem analisadas."

"De acordo com Welton Trindade, presidente da Estruturação, o segundo lugar como região administrativa mais gay, que ficou com o Sudoeste (25% dos votos), ratificou sua fama 'colorida'. 'No meio homossexual, o Sudoeste é conhecido como Sudogay', afirma Trindade."

Faz mais de um ano que eu moro aqui. Juro que não sabia quando escolhi o Sudoeste para morar.

Mais impressões



Well, quando fui procurar meu ap, fui primeiro ao Cruzeiro. É colado no Sudoeste: só uma avenida os separam.

O zelador de um bloco comercial comentou: "Aqui no Cruzeiro tudo é mais barato, desde aluguel até o pão". O pão?!?!? "É. Nesta padaria o pão tem um preço. Se você atravessar a avenida e for até a padaria do Sudoeste, vai comprar pão mais caro".

Achei que era exagero.

Sentada na mesinha da Pão Dourado para tomar café, escolhendo no menu (sim, tem menu na padaria). O garçom (sim, tem garçom na padaria) logo avisa: "Só tem café expresso".

Como assim, não tem cafezinho, de garrafa, de "coadô"?

All right... Mas eu não consigo localizar "misto quente". "Tem sim, é o primeiro da lista", avisa o garçom. Ah.... É o "sanduíche de peito de peru light com queijo"... All right again.

É verdade que o tal sanduíche vem nadando em óleo. Mas tem peito de peru, light, e ainda por cima é servido pelo garçom.

E custa R$ 2,50.

Impressões


Tem umas coisas sutis no Sudoeste. Você demora a perceber.

A primeira é o acesso. O Sudoeste fica grudado no Eixo Monumental (o "corpo" do avião, que aliás, descobri na apostila do meu filho, não é um avião. O desenho do Lúcio Costa é de uma borboleta). Isso significa que você pode chegar a qualquer parte do Plano Piloto, de carro, em 15 minutos (com exceção do horário do rush).

Mas de carro. No Sudoeste não tem metrô. E eu só consegui descobrir uma linha de ônibus, que ainda por cima sai da rodoviária. Ou seja, se você está na Asa Norte ou na Asa Sul, tem que pegar um busão até a rodô e de lá pegar outro para o Sudoeste. E aqui não tem bilhete integrado. Vai gastar quase R$ 5,00 e levar mais de uma hora.

E isso, acredite, é de propósito. Acaba restringindo o acesso de quem não tem bufunfa no bolso.

Paixões



Hoje eu acordei tomada de amores por Brasília. Por nenhum motivo especial.

Quando cheguei, passei os primeiros três meses apaixonada. A vida era fácil; morava em um lugar legal, pertinho do ônibus, dos bancos do Estado de São Paulo e dos restaurantes. Na pousada encontrei gente divertida de todo canto do Brasil.

Mas depois veio um período de ódio. Descobri que comprar qualquer coisa em Brasília é uma missão impossível. Principalmente material escolar.

E hoje fui até a padaria tomar café. Sentada na mesinha, olhando ao redor, vi algo que achei que nem existia mais: borboleta. E não era uma só. Eram muitas, dezenas, voando nos arbustos da quadra. Todas brancas.

Voltando para casa, a pé, achei tudo fácil e tranqüilo. Perto de casa tem um Habib´s, um Pão de Açúcar, muitas locadoras, um shopping center (preciso de shopping!)... A vida aqui corre, digamos, suave nos feriados. Isso é bom.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

...

I feel like I´m just a little girl.

RELAX!!!!!

Took a right to the end of the line
Where no one ever goes.
Ended up on a broken train with nobody I know.
But the pain and the (longings) the same.
(Where the dying
Now I'm lost and I'm screaming for help.)

Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.
It's as if I'm scared.
It's as if I'm terrified.
It's as if I scared.
It's as if I'm playing with fire.
Scared.
It's as if I'm terrified.
Are you scared?
Are we playing with fire?
Relax

There is an answer to the darkest times.
It's clear we don't understand but the last thing on
my mind
Is to leave you.
I believe that we're in this together.
Don't scream – there are so many roads left.

Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.
Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.
Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.
Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.
It's as if I'm scared.
It's as if I'm terrified.
It's as if I scared.
It's as if I'm playing with fire.
Scared.
It's as if I'm terrified.
Are you scared?
Are we playing with fire?
Relax
Relax

Na real

Manchetes de hoje no UOL:

"Trio elétrico perde o freio, atropela 14 e mata duas pessoas em MG"

"Carla Perez recebe Scheila Carvalho em trio na Bahia"

"Mano Brown e Suplicy sambam na escola" - [n.r.: Vai-Vai]

"Para britânicos, Sherlock Holmes existiu e Churchill é ficção"

"Relembre 'Adocica' e outras músicas de Beto Barbosa"

"Mel Lisboa mantém o corpão sem fazer sacrifícios"

"Périplo entre Israel e Egito revela idiossincrasias locais" - Essa é da Folha de S. Paulo. No meu tempo, título assim era proibido...

Deus abençoe a internet.

Da série "Histórias Bizarras"

A mulher sobe o alambrado da represa. Segundo testemunhas, já tinha até "montado cavalinho" quando resolveram pedir ajuda (passaram de carro pelos principais pontos da cidade anunciando aos quatro ventos que "a mulher ia se matar").

A polícia chega e está tentando tirar a suicida do alto do alambrado. Um deles, impaciente, grita de dentro do carro:

- Se joga logo, biscate!!!!

Pérolas de amigas loiras - Parte II

- Ah, eu não gosto de homem com barriga.
- Mas barriga é só malhar que perde... O duro é a cara, que se não prestar, não dá pra arrumar.
- E você pensa que é fácil homem perder barriga?
- Ué, é só fazer academia!
- Sei, sim. Pra homem perder a barriga, só se a mulher ficar em cima.

Eu tinha escutado só a última frase...

Pérolas de amigas loiras - Parte I

- Nossa... Fusca... gás. Fiat Uno... gás. Motocicleta... gás também. Não sabia que tinha tanto carro a gás.

Silêncio...

- Aqui tem posto de gás? Nem sabia...

- Onde é que você está vendo isso?

- Aqui no classificado... Tudo carro a gás.

Pego o papel para ler.

- É gasolina, abreviado. Não é gás. Aqui não tem posto de gás.

Silêncio.

- Mas gasolina não é com "Z"?
- Não, é com "S".

Silêncio. E timidamente, bem baixinho:

- Então gás é que é com "Z"?
- Não! Tudo que pega fogo é com "S": gasolina, gás, querosene, diesel!

Mas eu adoro ela ehehe

O que não ensinar ao seu filho - Parte I

No filme, aparece de repente na legenda: "Filho da puta!"

- Mãe, por que ele chamou o moço de filho da puta?
- Porque ele estava bravo com ele.
- Mas filho da puta não é motorista?
- Não, é um palavrão, e muito feio. Por que você achou que fosse?
- Porque é assim que você chama todos os outros motoristas quando está dirigindo...

Dialeto

Coisas que você aprende em Brasília:

- rotatória = balão ou "queijinho" (???)
- elástico = liga
- biscate = piriguete (de influência nordestina)
- bexiga = balão (de novo)
- esquina = cruzamento de duas ruas (aquele cotovelo de cimento não é esquina. A cidade não tem esquinas, logo o termo "rodar bolsinha na esquina" não existe por aqui)
- homossexual = baitola (de influência nordestina)
- prostituta = prima (logo, quando você diz "filho da puta" está se referido a alguém da família)
- alça de trevo = tesourinha (voltinha esquisita que tem em toda a parte)
- pensão ou pensionato = pousada (por isso você não acha no Google "pensão" nenhuma em Brasília)
- condomínio = conjunto de casas térreas não geminadas fora do Plano Piloto, mas também é o famoso condomínio que você paga no ap
- sobreloja = puxadinho (juro que não sei porquê)
- é logo ali = cuidado, você vai andar muitos quilômetros

E uma especial, que não se refere especificamente a Brasília. Li outro dia, escrito por uma nativa, e acho que está mais para seção "Pérolas" do que para folclore da cidade, mas enfim....

- Walter Gates = famoso escândalo que derrubou o presidente Nixon (Watergate). Ou talvez o pai do Bill, vai saber...

Eu juro que estava escrito.

O Tempo 2

Pois é, quando eu vou fazer cadastro de qualquer porcaria na internet, na hora de preencher os campos da data de nascimento, acontece uma coisa.

No campo "ano" abre um menu com todos os últimos, sei lá, 100 anos. E eu tenho que rolar a barra pra baixo pra achar o meu ano.

Não que eu me importe de envelhecer. Mas essas pequenas constatações no meu dia-a-dia são muito chatas.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Plágio

Essa semana eu liguei a TV à toa e estava passando a novela das 9 (no meu tempo, era novela das 8...) na Globo.

Em se tratando de novela brasileira, eu só assisto nas duas últimas semanas. É incrível: você entende tudo do mesmo jeito. Diferente de Twin Peaks, ou Lost.

Mas retomando... teve uma cena lá muito esquisita. Muito ridícula. O ruim da história é que eu me identifiquei com a cena e tive noção de que eu sou ridícula também. Se eu tivesse um diário, poderia jurar que foi cair na mão do autor da novela.

Então, eu não quero mais assistir à novela, nem mesmo nas duas últimas semanas. Principalmente porque eu sei que a cena ridícula vai ter final feliz, mesmo que completamente, absolutamente impossível.

Receita

Receita infalível para eliminar angústia, acabar com a tristeza, esquecer os problemas, tomar coragem, afastar a depressão, enfim, chutar o balde:

Pare e reflita:

- o mundo tem pelo menos 2000 anos contados no calendário;
- você anda em cima da poeira dos ossos de gente que viveu há centenas de anos e nem sabe;
- a Terra tem trocentos milhões de habitantes e somente uma pequenérrima parte conhece você;
- 50 anos depois da sua morte, ninguém vai lembrar que você existiu.

Então, que diferença faz qualquer coisa?

PS: mesmo que você seja famoso e se lembrem de você depois de morto, vai fazer diferença?

O Tempo

Cinco coisas que o Tempo vive exibindo diante do meu nariz:

1) os atendentes de lojas me chamando de "senhora";
2) os e-mails sobre os anos 80, que têm cara de velharia mas me emocionam;
3) eu dizendo, vira e mexe, "na minha época";
4) minhas fotos de infância, com um colorido esquisito e roupas engraçadas;
5) as músicas de bandas brasileiras que não tocam no rádio e eu insisto em ouvir.

O carnaval morreu, seu grande circo pegou fogo...

Começou. Bom, todo ano tem mesmo. Vai passar e depois, só em 2009.

Eu não gosto de carnaval. Bem, eu gosto do feriado. Mas não gosto do carnaval.

E olha que eu tentei. Porque todo mundo sempre gostou, e tal. Mas às vezes eu fico pensando: e se todo mundo mente? E se as pessoas não gostam, mas acabam dizendo que gostam porque TODO mundo gosta?

Meu primeiro carnaval foi no colégio. Eu devia ter cinco anos. Fui de Mulher Maravilha. Foi quando descobri que o melhor da festa é esperar por ela (no carnaval, com certeza).

Quando cheguei ao salão e vi aquele monte de serpentina voando e o povo pulando, lembro que achei a música muito alta. E não gostei da música - aquelas marchinhas antigas.

Eu tinha cinco anos, mas já fiquei pensando que não tinha graça ficar rodando horas e horas por um salão.

Depois eu fui em mais dois carnavais. Por absoluta falta do que fazer.

Well, hoje eu prefiro não fazer nada mesmo.

domingo, 27 de janeiro de 2008

São Paulo

"No imaginário internacional, São Paulo é uma cidade indefinida. Não tem a personalidade marcada de uma Rio de Janeiro, uma Brasília ou uma Buenos Aires - que não é brasileira, mas tem tanta personalidade que sempre entra na lista. No entanto, é a maior metrópole do hemisfério sul, detém 33% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e comporta mais de 17 milhões de habitantes - um em cada dez brasileiros vive em São Paulo. Com tudo isso continua indefinível, ambígua. (...)
Para conhecer uma cidade como São Paulo, é necessária uma visão que eu chamo de 'amazônica'. É comum em alguns índios brasileiros esse tipo de visão: como a selva na Amazônia é muito fechada e plana, eles desenvolveram mais sua visão de curta distância, em contrapartida a visão de longa distância, a que vê a paisagem, ficou prejudicada.

Como uma floresta amazônica, São Paulo cresceu muito além da escala humana. Ao perder a grande paisagem, o paulistano também se tornou detalhista, atento às minúcias, como um índio que sabe mais das folhas do que das árvores. Um paulistano pode ver através dos muros, atrás de outdoors, por cima de viadutos, entre postes. E encontrar beleza. É uma questão de treinamento. O tecido urbano de São Paulo é uma sobreposição de camadas de cidade que, na sua urgência, mal cobrem as camadas anteriores. Quem passeia por ela costuma encontrar, à sombra de um viaduto ou escondida entre prédios comerciais, pequenas jóias arquitetônicas esquecidas. Basta focar o olhar e abstrair seu entorno".


(Arthur Casas. São Paulo na Arquitetura de Arthur Casas. 2007. Adaptado)

sábado, 26 de janeiro de 2008

Enfim...

... eu hoje não estou prestando.

IT´S MY LIFE

This ain´t a song for the broken hearted
No silent prayer for faith-departed
I ain´t gonna be just a face in the crowd
You´re gonna hear my voice
When I shout it out loud

It´s my life
It´s now or never
I ain´t gonna live forever
I just wanna live while I´m alive
It´s my life
My heart it´s like an open highway
Like Frankie said
I did it my way
I just wanna live while I´m alive
It´s my life

This is for the ones who stood their ground
For Tommy ad Gina who never backed down
Tomorrow´s getting dark make no mistake
Luck ain´t even lucky
Got to make your own breaks

It´s my life
It´s now or never
I ain´t gonna live forever
I just wanna live while I´m alive
It´s my life
My heart it´s like an open highway
Like Frankie said
I did it my way
I just wanna live while I´m alive
It´s my life

Better stand tall when they´re calling you out
Don´t bend, don´t break, baby, don´t back down

It´s my life
It´s now or never
Cause I ain´t gonna live forever
I just wanna live while I´m alive
It´s my life
My heart it´s like an open highway
Like Frankie said
I did it my way
I just wanna live while I´m alive
It´s my life

Eu havia esquecido uma série de coisas. Eu havia esquecido que gostava dessa música.

Eu havia esquecido da nostalgia do final da tarde, e da possibilidade infinita do futuro.

A gente se esquece do que pensava quando tinha 18 anos.

Mas não devia.

Pensamento

"Eu queria que o que é palavra virasse toque"

Por Fernando, no Misto Quente (http://fadini.blogspot.com/). Um blog "morto" há quase exatamente dois anos. Eu sou meio lenta mesmo...

Balzac

"Você não se acusa em segredo de não saber ou não poder compartilhar seus prazeres? Às vezes, não acha que o amor legítimo é mais difícil de suportar que uma paixão criminosa?" - Honoré de Balzac, A Mulher de Trinta Anos

???

domingo, 20 de janeiro de 2008


Arte sobre foto by Rafa


Cobra milão por cada uma dessas obras. Encomendas no rsc_av@hotmail.com.

Ok, não ficou lá essas coisas, mas digamos que tem valor sentimental. E nesse caso, não tem preço :)
No ano seguinte, ele não voltou. Ela esperou toda arrumada, de vestido novo, porque o velho não cabia mais. Mas ele não apareceu.
- Talvez esteja doente - disse Miguel.
- Você sabe que ele não adoece nunca.
Miguel chegou bem pertinho dela e sussurrou, num calafrio:
- Talvez ele não exista, Wendy.
Nessa hora, Wendy só não chorou porque Miguel já estava chorando.
Mas na primavera seguinte, na hora da limpeza geral, Peter voltou. E o mais esquisito é que nunca reparou que tinha pulado um ano.
Essa foi a última vez que a menina Wendy o viu. Durante mais algum tempo, por amor a ele, ela fez o possível para não crescer. E sentiu que estava sendo infiel quando ganhou um prêmio de conhecimentos gerais na escola. Mas os anos se passaram sem trazer de volta o menino distraído. E quando os dois tornaram a se encontrar, Wendy já estava casada e Peter para ela não era mais do que uma poeirinha na caixa em que ela tinha guardado os brinquedos. O caso é que ela tinha crescido. Você não precisa ficar com pena. Ela era do tipo que gosta de crescer. No fim das contas, por espontânea vontade, acabou até crescendo um dia mais depressa do que as outras meninas.
A essa altura, todos os meninos já estavam crescidos e encaminhados. Por isso, nem vale muito a pena falar mais neles. Todo dia, você pode ver os Gêmeos e Bicudo e Cabelinho a caminho do escritório, cada um carregando sua pastinha e seu guarda-chuva. Miguel é maquinista de trem. Deleve casou com uma dama da nobreza, e ganhou um título. E aquele juiz ali, de peruca branca na cabeça, saindo por aquele portão de ferro, você está vendo? Era o Piuí... O sujeito barbudo que não sabe nenhuma história para contar para os filhos já foi o João.
Wendy se casou de branco com uma faixa cor-de-rosa. É estranho pensar que Peter não apareceu de repente voando na igreja e não pousou na frente de todo mundo para impedir o casamento.
Os anos se passaram e Wendy teve uma filha. E isto não devia ser escrito com tinta comum, mas com ouro líquido.
Ela se chamava Jane e tinha um olhar perguntadeiro de quem está sempre curiosa, como se desde o momento em que chegou nesta terra estivesse querendo fazer uma porção de perguntas. E assim que ela teve idade de, afinal, poder perguntar, a maioria das coisas que queria saber era sobre Peter Pan. Adorava ouvir histórias de Peter Pan, e Wendy contou a ela tudo o que conseguia lembrar, naquele mesmo quarto de crianças onde tinha aprendido a voar e de onde tinha fugido com ele. Agora era o quarto de Jane, porque o pai dela tinha comprado a casa bem baratinho do pai de Wendy, que não queria mais saber de escadas. A senhora Darling a essa altura já estava morta e esquecida.
Só havia duas camas no quarto agora, a de Jane e a da babá. Não havia mais casinha de cachorro, porque Naná também já tinha morrido. De velhice. E no fim da vida deu muito trabalho, sempre convencida de que ninguém mais, a não ser ela, era capaz de cuidar das crianças direito.
Uma noite por semana, era a folga da babá. Nesse dia, quem punha Jane para dormir era Wendy. Era a horas das histórias. Jane tinha inventado uma brincadeira de levantar as cobertas por cima da cabeça da mãe e da dela, fazendo uma espécie de tenda. Na escuridão em que ficavam, ela falava baixinho:
- O que é que a gente está vendo agora?
- Eu acho que hoje não estou vendo nada - diz Wendy, com a sensação de que Naná não ia gostar de que continuassem conversando.
- Está vendo, sim - teima Jane - Está vendo o tempo em que você era criança.
- Isso foi há muito tempo, meu amor... - disse Wendy. - Meu Deus, como o tempo voa...
- E o tempo voa do mesmo jeito que você voava quando era criança? - pergunta a menina esperta.
- Do jeito que eu voava? Sabe de uma coisa, Jane? Às vezes eu fico achando que eu nunca voei mesmo, de verdade...
- Voou, sim.
- Os velhos tempos em que eu podia voar...
- E por que é que você não pode mais, mãe?
- Porque eu cresci, minha querida. Quando as pessoas crescem, se esquecem.
- Por que é que elas esquecem?
- Porque não são mais alegres e inocentes e de coração leve. Só os alegres, inocentes e de coração leve é que conseguem voar.
- O que é isso de alegres, inocentes e de coração leve? Eu também queria ser alegre, inocente e de coração leve.
Ou então, pode ser que Wendy admita que está vendo alguma coisa. Diz:
- Eu tenho certeza de que é este quarto.
- Eu tenho certeza de que é - diz Jane. - Continue.
E aí elas embarcam na grande aventura da noite em que Peter entrou voando, para procurar a sombra dele.
- O bobinho... - diz Wendy. - Tentou colar a sombra com sabão e, quando não conseguiu, começou a chorar, e me acordou e eu costurei para ele.
- Você pulou uma porção de pedaços - interrompe Jane, que já sabe a história melhor que a mãe. - E quando você viu ele sentado no chão chorando, o que foi que você disse?
- Eu me sentei na cama e disse assim: "Menino, por que é que você está chorando?".
- Isso, foi assim mesmo! - diz Jane, respirando fundo.
- E depois ele levou nós todos, voando, com ele, para a Terra do Nunca, para junto das fadas e dos piratas e dos índios e da Lagoa das Sereias e da casa debaixo da terra e da cabaninha.
- Isso mesmo. E de que foi que você gostou mais?
- Acho que foi da casa debaixo da terra.
- Eu também. E qual foi a última coisa que Peter te disse?
- A última coisa que ele disse foi: "Fique sempre me esperando e uma noite você vai ouvir meu cocoricó...".
- Isso!
- Mas que pena! Ele se esqueceu de mim completamente...
Wendy disse isso com um sorriso. Tinha crescido a esse ponto.
- E como era esse cocoricó dele? - perguntou Jane uma noite.
- Assim... - disse Wendy, tentando imitar.
- Não. Não era. - disse Jane, séria. - Era assim.
E fez muito melhor do que a mãe.
Wendy ficou um pouco surpresa.
- Minha filha, como é que você pode saber?
- Eu sempre ouço quando estou dormindo.
- Ah, sim, muitas meninas ouvem quando estão dormindo. Eu sou a única que ouvi acordada.
- Sorte sua. - disse Jane.
E então, uma noite, veio a tragédia.
Era primavera, a história daquela noite já estava contada e acabada, e Jane estava dormindo em sua caminha. Wendy estava sentada no chão, bem perto da lareira, para poder enxergar umas meias que estava cerzindo, porque não havia outra luz no quarto. Enquanto cerzia, ouviu um cocoricó. Então a janela se abriu com uma brisa, como antigamente, e Peter pousou no chão.
Estava exatamente como sempre. Wendy logo reparou que ele ainda tinha todos os dentinhos de leite.
Ele era um menino e ela tinha crescido. Encolheu-se junto da lareira, sem ousar se mexer, desamparada e culpada, uma mulher crescida.
- Oi, Wendy! - exclamou ele, sem notar nenhuma diferença, porque estava pensando só em si mesmo, e na escrutidão do quarto o vestido branco podia ser a camisola em que ele a tinha visto pela última vez.
- Oi, Peter! - respondeu ela meio baixo, se apertando para ficar o menor possível. Algo dentro dela chorava e pedia: "Mulher, mulher, me solte!".
- Ei, cade João? - perguntou ele, de repente, dando falta da terceira cama.
- João não está aqui agora. - disse ela, engolindo em seco.
- E Miguel? Está dormindo? - perguntou Peter, dando uma olhada distraída em direção a Jane.
- Está. - respondeu ela, e sentiu que estava sendo desleal com Jane e também com Peter.
Antes que fosse julgada por isso, tratou de acrescentar rapidamente.
- Esse aí não é o Miguel.
Peter olhou:
- Oba! É novo?
- É.
- Menino ou menina?
- Menina.
Na certa ele ia entender agora. Mas nada disso. Ela perguntou, com a voz falhando:
- Peter, você está achando que eu vou sair voando com você?
- Claro, foi para isso que eu vim. Ou você esqueceu que está na hora da nossa faxina de primavera? - o tom de voz dele era meio sério.
Ela sabia que não adiantava dizer que ele tinha deixado passarem muitas faxinas de primavera... Respondeu em tom de quem pede desculpas:
- Não posso. Esqueci como é que se voa.
- Num instante eu te ensino outra vez.
- Ai, Peter, não desperdice a poeira das fadas comigo...
Ficou em pé. E então, finalmente, deu um medo nele, que perguntou assustado:
- Que foi que aconteceu?
- Vou acender a luz e você mesmo vai poder ver.
Ao que eu saiba, foi a única vez na vida dele - ou quase a única - que Peter teve medo. E gritou:
- Não! Não acenda!
Ela deixou que seus dedos brincassem pelo meio dos cabelos do menino trágico. Não era mais uma menininha de coração partido por causa dele. Era uma adulta, sorrido de tudo. Mas eram sorrisos molhados.
Depois, acendeu a luz e Peter viu. Deu um grito de dor. E quando aquela criatura alta e bonita se aproximou para pegá-lo no colo, ele recuou abruptamente.
- Que foi que aconteceu? - perguntou de novo.
Ela teve que contar.
- Fiquei mais velha, Peter. Já passei muito dos vinte. E cresci há muito tempo.
- Mas você prometeu não crescer.
- Não dava para evitar. E me casei, Peter.
- Não! Não casou...
- Casei, sim. E a menininha que está na cama é minha filha.
- Não é, não.
Mas achou que era. E deu um passo em direção à criança adormecida, com a adaga levantada. É claro que não deu golpe nenhum. Em vez disso, sentou-se no chão e soluçou. Wendy não sabia o que fazer para consolá-lo, embora antigamente pudesse fazer isso com tanta facilidade. Mas agora ela era apenas uma mulher e saiu do quarto correndo, para tentar pensar.
Peter continuou a chorar. Daí a pouco seus soluços acordaram Jane. A menina se sentou na cama, e logo ficou interessada.
- Menino - perguntou -, por que é que você está chorando?
Peter se levantou e fez uma curvatura, saudando-a, e ela o cumprimentou da cama.
- Olá. - disse ele.
- Olá. - disse ela.
- Meu nome é Peter Pan.
- Eu sei.
- Eu vim buscar sua mãe, para ela ir comigo para a Terra do Nunca.
- Eu sei. - disse ela. - E já estava te esperando.
Quando Wendy voltou, insegura, encontrou Peter sentado no pé da cama, dando um cocoricó glorioso, enquanto Jane, de camisola, dava voltas voando pelo quarto, em êxtase.
- Ele precisa tanto de uma mãe... - explicou Jane.
- Eu sei. - admitiu Wendy, numa mistura de tristeza e saudade. - Ninguém sabe disso melhor do que eu.
- Tchau... - disse Peter para Wendy, levantando vôo em companhia de Jane, perfeitamente à vontade. Para ela, já era a maneira mais fácil de ir de um lado para outro.
Wendy correu para a janela.
- Não! Não! - gritou.
- É só agora na primavera, mamãe, para dar uma limpeza geral. - explicou ela. - Ele quer que eu sempre vá ajudar na faxina da primavera.
- Eu queria tanto ir com vocês... - suspirou Wendy.
- Mas você não pode mais voar, não está vendo? - disse Jane.
É claro que, no fim, Wendy deixou os dois irem. A última vez que olhamos para ela vemos que está junto da janela, vendo os dois indo cada vez mais longe no ceú, até ficarem pequenininhos, do tamanho das estrelas.

...