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Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

domingo, 22 de junho de 2008

Ter uma alma velha

Tudo isso porque hoje me perdi nas páginas de "Memórias de minhas putas tristes", de Gabriel García Márquez. Adoro os livros de Márquez e de Llosa, mas, e talvez justamente por isso, têm sempre um efeito devastador sobre mim.

O tom de nostalgia, acrescido de descrições brilhantes, é para mim como uma lembrança. Como se eu tivesse passado por tudo que eles viveram. Na verdade, o que há em comum entre nós é o modo de se referir ao passado; é a saudade latente que salta das linhas impressas nas folhas frias para tomar vida dentro de mim.

Apenas em duas épocas do ano sinto isso tão profundamente: na última semana do ano, em meio às festas do Natal e do Ano Novo, e no inverno. E sempre no final da tarde. Àquela hora em que o dia ainda não acabou, mas tampouco é noite. O céu ainda tem mais de uma cor que o azul, o sol é apenas um fantasma que teima em não encontrar seu fim, e as primeiras estrelas são apenas perceptíveis.

Ainda criança, costumava subir no ponto mais alto do muro da casa de minha avó para ver o pôr-do-sol e sentir a noite me envolver. Não tinha ainda 15 anos, mas já sentia tudo isso. Não sabia que era nostalgia e fico a imaginar como pode uma criança sentir algo parecido. Talvez fosse a nostalgia de minha alma velha pelas minhas vidas passadas...

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