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Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

domingo, 27 de janeiro de 2008

São Paulo

"No imaginário internacional, São Paulo é uma cidade indefinida. Não tem a personalidade marcada de uma Rio de Janeiro, uma Brasília ou uma Buenos Aires - que não é brasileira, mas tem tanta personalidade que sempre entra na lista. No entanto, é a maior metrópole do hemisfério sul, detém 33% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e comporta mais de 17 milhões de habitantes - um em cada dez brasileiros vive em São Paulo. Com tudo isso continua indefinível, ambígua. (...)
Para conhecer uma cidade como São Paulo, é necessária uma visão que eu chamo de 'amazônica'. É comum em alguns índios brasileiros esse tipo de visão: como a selva na Amazônia é muito fechada e plana, eles desenvolveram mais sua visão de curta distância, em contrapartida a visão de longa distância, a que vê a paisagem, ficou prejudicada.

Como uma floresta amazônica, São Paulo cresceu muito além da escala humana. Ao perder a grande paisagem, o paulistano também se tornou detalhista, atento às minúcias, como um índio que sabe mais das folhas do que das árvores. Um paulistano pode ver através dos muros, atrás de outdoors, por cima de viadutos, entre postes. E encontrar beleza. É uma questão de treinamento. O tecido urbano de São Paulo é uma sobreposição de camadas de cidade que, na sua urgência, mal cobrem as camadas anteriores. Quem passeia por ela costuma encontrar, à sombra de um viaduto ou escondida entre prédios comerciais, pequenas jóias arquitetônicas esquecidas. Basta focar o olhar e abstrair seu entorno".


(Arthur Casas. São Paulo na Arquitetura de Arthur Casas. 2007. Adaptado)

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