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Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

De quando saí do DEBATE 2

E esse foi o artigo que o Sérgio escreveu, quando eu saí. Foi o elogio mais gratificante que recebi em toda a minha vida. E acho que sempre será.

Ler, em algo escrito pelo próprio Sérgio, "DEBATE da Thelma", foi algo que me emocionou profundamente. Sei o quanto o jornal é caro ao Sérgio. Em uma cerimônia de aniversário do jornal, ele explicou que tem 4 filhos; um deles é o DEBATE.

Sempre senti o DEBATE um pouco meu filho também, com o perdão da ousadia. Um filho orgulhosamente parido toda a semana, com muito esforço, e que me deu tantas alegrias.

Uma jornalista de caráter

Sérgio Fleury Moraes
Da Redação

A jornalista Thelma Yeda Roder Kai já não faz parte da equipe de jornalismo do DEBATE. Aprovada em concurso público, acaba de assumir um posto no Judiciário de Santa Cruz do Rio Pardo. Resolveu, no linguajar jovem que também domina, “dar um tempo” no jornalismo, profissão que abraçou como poucos há aproximadamente uma década. No jornal, Thelma brilhou durante quase oito anos, período só interrompido por algumas semanas no início de 2001. Filha de uma educadora que já faz parte da história de Santa Cruz do Rio Pardo (Nilda Roder foi a primeira mulher a ter a coragem de se candidatar a vereadora na cidade, nos anos 60), foi no DEBATE que Thelma efetivamente abraçou o jornalismo e aprendeu os segredos — e principalmente os obstáculos — da profissão. Criou uma tal identidade que dificilmente deixará de ser conhecida como “Thelma do DEBATE” em pouco tempo. Mas o jornal também ganhou uma feição diferente com a jornalista integrando a redação. O “DEBATE da Thelma” diversificou sua linha editorial, ganhou suplementos e até ousou lançar, de forma inédita, uma revista mensal.Porém, acima da inegável qualidade profissional de Thelma Yeda Kai, está seu caráter. Há uma passagem na vida da jornalista que exemplifica isto. Idealista, acreditou em 2000 no candidato que acabou se elegendo prefeito de Santa Cruz. Confiou em seu discurso, achou que finalmente a cidade entraria num período de mudanças e quis fazer parte deste projeto. Convidada, aceitou assumir a assessoria de imprensa no início de 2001, mas logo percebeu que o sonho em que acreditou era, na verdade, um grande pesadelo.Conheceu a verdadeira personalidade do “novo” alcaide e, em menos de 15 dias, pediu demissão. Na primeira vez, o mandatário pediu-lhe que permanecesse no cargo, pois era apenas o início do governo e tudo iria mudar. Ledo engano. Mais alguns dias e Thelma Kai pediu o boné e voltou ao DEBATE — para ganhar um salário menor.Alguém pode imaginar a dimensão deste gesto, num momento em que o governo virou um cabide de empregos e altos salários passam a ser moeda de barganha entre apaniguados? Somente pessoas com caráter têm a coragem de tomar uma atitude como Thelma. Na verdade, esta jovem idealista sempre colocou a profissão acima das questões financeiras.É difícil imaginar o que leva alguém a trocar de profissão, mesmo que — acredito — por período determinado. Ouso arriscar alguns motivos, já que descarto a questão salarial. Thelma conheceu o quanto é difícil exercer o jornalismo independente numa cidade como Santa Cruz do Rio Pardo, onde os valores são totamente invertidos e quem se atreve a mostrar que o rei está nu é perseguido, difamado e ofendido. Aqui, aos olhos de muitas autoridades, o ideal é o jornalismo chapa-branca, com direito a “boas notícias” e, evidentemente, ao “mensalinho” no final do mês. Quem efetivamente defende a cidade e quer corruptos na cadeia, só pode estar conspirando contra a auto-estima de sua população.Neste quadro obscuro, acredito que Thelma Yeda Roder Kai cansou-se da instabilidade do jornalismo independente em Santa Cruz. Vai respirar outros ares, menos conturbados.Mas também ouso arriscar que o espírito inquieto da aguerrida jornalista vai falar mais alto em pouco tempo. O lugar de Thelma certamente não está nos escaninhos de um Judiciário entupido de processos. Seu verdadeiro espaço sempre será numa redação de jornal, embalada pela “música” dos teclados e impressoras. É ali que seus olhos brilham, sua alma sorri e Thelma se realiza.Por isso, ao agradecer publicamente todo o empenho de Thelma Roder Kai ao DEBATE, não quero, assim como todos os demais companheiros de redação, fazer deste texto uma despedida. Portanto, até breve, companheira.

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