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Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer. Estritamente reservadas para companheiros de confiança, devem ser sacralmente pronunciadas em tom muito especial lá onde a polícia dos adultos não adivinha nem alcança. Entretanto são palavras simples: definem partes do corpo, movimentos, atos do viver que só os grandes se permitem e a nós é defendido por sentença dos séculos. E tudo é proibido. Então, falamos. Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Motivos

Se eu escrevo isso hoje, é porque tive um sonho. Um sonho que, aliás, é recorrente. Sonho que voltei para a redação do DEBATE. É uma alegria indescritível. Pego meu bloquinho, minha caneta, e lá vou, cobrir a pauta. Realmente, a música dos teclados e das impressoras de uma redação é o som que me faz feliz.

Mas no meu sonho, logo vêm as preocupações: a pauta cai, não tem foto pra matéria ou, pior ainda, eu me esqueci de fechar os cromos antes de ir embora... Desespero total. No final, acordo aliviada por ver que, na realidade, não esqueci de fechar a capa e a gráfica não vai ter um atraso de horas por minha culpa.

E sempre que tenho esse sonho eu passo o dia recordando meu tempo no DEBATE. Quando comecei a trabalhar lá, pouco via o Sérgio; nossos horários eram trocados. Quando iam definir o Sérgio, as pessoas tinham sempre uma palavra na ponta da língua: bravo.

Realmente, o Sérgio chegava com cara de poucos amigos. E com pouca conversa. Mas não demorou para que eu entendesse o "funcionamento" disso. No início da tarde não adiantava puxar conversa com ele. Conforme o tempo ia passando e ele ia se envolvendo mais com as matérias do que com os problemas da empresa, o Sérgio tornava-se outra pessoa. Mais falante. Dava risadas. Isso, claro, depois das 18h, após muito café e muitos cigarros.

À noite, ele já estava totalmente diferente. Durante a madrugada, ele contava piadas, comentava as matérias e recordava muitos "causos". Sinto muita falta dessas histórias contadas pelo Sérgio.

E também não posso, eu, dizer que o Sérgio era "bravo". Porque ele foi um poço de paciência comigo. Me ensinou tudo que sei de jornalismo. Editar matéria, tirar foto, tratar foto, cuidar das cores, diagramar etc etc etc). Ensinou principalmente como farejar uma boa história, como diferenciar notícia verdadeira de secos e molhados. Habilidades que sempre me são úteis.

Lembro dele sentado em frente do computador, tratando a foto da capa. Eu, curiosa, reclamava que não entendia nada de cores. E ele dizia: "É fácil, olha só". E ia mostrando, como se fosse a coisa mais natural do mundo a gente meio que adivinhar a quantidade de ciano, magenta, amarelo e preto de uma foto na tela do computador.

E vi o Sérgio repetir isso com muita gente. O melhor diagramador que eu já conheci foi treinado por ele. Todo novo jornalista aprendia tudo com ele.

Hoje trabalho numa empresa grande que trabalha muito o "clima organizacional" e prega o discurso de desenvolvimento do empregado. Bom, no DEBATE, sem teoria nenhuma, tudo ocorria na prática. As pessoas lá têm chance de desenvolvimento. Quando cheguei, a secretária nem ligava um computador. Quando saí, ela diagramava o jornal e ainda sabia fazer fotolito.

E ela é só um exemplo. Mas todo mundo que trabalhou no DEBATE aprendeu a fazer de tudo e cresceu muito.

Mas (e isso é o principal) acho que o maior aprendizado foi observar a obstinação do Sérgio em fazer a coisa certa. Com a labuta do dia-a-dia, ele foi nos mostrando o que é ter caráter.

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